quinta-feira, 6 de dezembro de 2012

Padroeiro dos catequistas


SANTO PADROEIRO DOS CATEQUISTAS

São Carlos Borromeu


  Carlos, o segundo filho de Gilberto, nasceu em 2 de outubro de 1538. Menino ainda, revelou ótimo talento e uma inteligência rara. Ao lado destas qualidades, manifestou forte inclinação para a vida religiosa, pela piedade e o temor a Deus. Ainda criança, era seu prazer construir altares minúsculos, diante dos quais, em presença dos irmãos e companheiros de idade, imitava as funções sacerdotais que tinha observado na Igreja. O amor à oração e o aborrecimento aos divertimentos profanos, eram sinais mais positivos da vocação sacerdotal.

O ano de 1562 veio a Carlos com a graça do sacerdócio. No silêncio da meditação, lançou Carlos planos grandiosos para a reorganização da Igreja Católica. Estes todos se concentraram na ideia de concluir o Concílio de Trento. De fato, era o que a Igreja mais necessitava, como base e fundamento da renovação e consolidação da vida religiosa. Carlos, sem cessar, chamava a atenção do seu tio (que era Cardeal e foi eleito Papa, com o nome de Pio IV) para esta necessidade, reclamada por todos os amigos da Igreja. De fato, o Concílio se realizou, e Carlos quis ser o primeiro a executar as ordens da nova lei, ainda que por esta obediência tivesse de deixar sua posição para ocupar outra inferior. 

Carlos sabia muito bem que a caridade abre os corações também à religião. Por isto foi que grande parte de sua receita pertencia aos pobres, reservando ele para si só o indispensável. Heranças ou rendimentos que lhe vinham dos bens de família, distribuía-os entre os desvalidos. Tudo isto não aguenta comparação com as obras de caridade que o Arcebispo praticou, quando em 1569-1570, a fome e uma epidemia, semelhante à peste, invadiram a cidade de Milão. Não tendo mais o que dar, pedia ele próprio esmolas para os pobres e abria assim fontes de auxílio, que teriam ficado fechadas.

Quando, porém, em 1576, a cidade foi atingida pela peste, e o povo abandonado pelos poderes públicos, visto que ninguém se compadecia do povo, ainda procurava os pobres doentes dos quais ninguém lembrava, consolava-os e dava-lhes os santos sacramentos. Tendo-se esgotado todas as fontes de recurso, Carlos lançou mão de tudo o que possuía, para amenizar a triste sorte dos doentes. Mais de  cem sacerdotes tinham pago com a vida, na sua dedicação e serviço aos doentes. Deus conservava a vida do Arcebispo, e este se aproveitou da ocasião para dizer duras verdades aos ímpios e ricos esquecidos de Deus.

Gregório XIII, não só rejeitou as acusações infundados feitas ao Arcebispo, mas ainda recebeu Carlos Borromeu em Roma, com as mais altas distinções. Em resposta a este gesto do Papa, o governador de Milão, organizou no primeiro domingo da Quaresma de 1579, um indigno préstito carnavalesco pelas ruas de Milão, precisamente à hora da missa celebrada pelo Arcebispo. O mesmo governador, que tanta guerra ao Prelado movera, e tantas hostilidades contra São Carlos estimulara, no leito de morte reconheceu o erro e teve o consolo da assistência do santo Bispo na hora da agonia. Seu sucessor, Carlos de Aragão, duque de Terra Nova, viveu sempre em paz com a autoridade eclesiástica. O Arcebispo gozou deste período só dois anos.

Quando em outubro de 1584, como era de costume, se retirara para fazer os exercícios espirituais, teve fortes acessos de febre, aos quais não deu importância e dizia: “Um bom pastor de almas, deve saber suportar três febres, antes de se meter na cama”. Os acessos renovaram-se e consumiram as forças do Arcebispo. Ao receber os santos sacramentos, expirou aos 03 de novembro de 1584. Suas últimas palavras foram: “Eis Senhor, eu venho, vou já”. São Carlos Borromeu tinha alcançado a idade de 46 anos.

O Papa Paulo V, canonizou-o em 1610 e fixou-lhe a festa para o dia 04 de novembro.


São Carlos Borromeu, rogai por nós!

quinta-feira, 25 de outubro de 2012


Notícias do Sínodo dos Bispos 17 - Pe. Lima
DISCUTINDO AS PROPOSIÇÕES
Trabalho nos Círculos Menores (Grupos) 

Hoje não ouve plenário. Todo o dia foi dedicado à discussão das 57 proposições nos 12 círculos menores, também chamados grupos linguísticos, pois nos reunimos por línguas que previamente havíamos escolhidos. Como já disse, fui como assessor no grupo Hispanicus A, bastante numeroso. A maioria era da América Latina (do Brasil estávamos Dom Odilo, Dom Geraldo Lírio e eu), alguns europeus (espanhóis) e outros de países africanos que falam português (Angola, Moçambique, São Tomé e Príncipe...).
Continuou a reclamação da falta de uma tradução em língua mais compreensível já que dispomos apenas do inglês, traduzido para o latim extremamente clássico e difícil. Frequentemente era necessário recorrer ao inglês para entender o latim e vice versa: às a tradução latina expressava melhor a ideia do que o original inglês, ou a ideia estava melhor expressa em inglês que o latim. Eu mesmo tive a oportunidade de corrigir um título que trocava Ministerium porministrum...
As normas dadas para as discussões nos grupos linguísticos eram bastante rígidas. Não podíamos fazer propostas individuais por escrito; qualquer proposta deveria ser discutida e aprovada por maioria relativa, caso contrário não era aceita. As sugestões seriam apenas para "aperfeiçoar" os textos, sem mexer em seu sentido substancial nem na estrutura. Deveriam se restringir a mudar palavras, fazer citações e fazer pequenos acréscimos para melhorar a ideia já expressa. Como se vê, a redação das 57 proposições apresentadas nessa brochura intitulada "Elechus unicus propositionum" já vinha quase como pronta. O relator do grupo deveria tomar nota de tudo e levar para a reunião dos 12 relatores dos grupos amanhã, junto com a presidência, para elaborarem a redação final.
Apesar de tantas restrições, o nosso grupo trabalhou a tarde de ontem, e nos dois períodos de hoje, manhã e tarde. Foi uma discussão bastante boa. Aparecia, como já havia sido notado, alguma diferença de experiências e mentalidades entre latino-americanos e africanos, e os europeus (espanhóis). Quando eu apresentei a proposta de trocar o título do no. 29 de "Catecismo" para "Catequese, catequistas e Catecismo", o mundo veio abaixo... protesto geral, pois o que o Sínodo queria era acentuar o valor do Catecismo da Igreja Católica e urgir o seu uso na catequese. Argumentei sobre a prevalência da fides qua (resposta pessoal, adesão à pessoa de Jesus) sobre a fides quae (conteúdo, doutrina), mas fui voto vencido. E o pior é que, em todo o Elenco das 57 proposições, não se fala da catequese em si explicitamente, nem dos catequistas. Alguém disse que o texto já falava dos leigos em geral, e isso bastava... imaginem!
A questão do ministério dos catequistas definitivamente não passou, pelo menos no meu grupo. E no Plenário também eu já havia sentido uma resistência a essa ideia... Soube, por outras vias, que no neo-catecumenato os catequistas às vezes passam por cima da autoridade do padre e querem extrapolar seus limites. Daí o medo de alguns em reforçar tal realidade se por acaso a catequese fosse reconhecida como ministério...
A todo momento eu dizia que determinado assunto estava fora de lugar... aliás, comentando minha crônica de ontem, alguns já me fizeram essa observação, através de e-mails, particularmente no cap. III. Então o Moderador (coordenador do grupo) pediu que eu fizesse, ao final, uma proposta e apresentasse no final da tarde por escrito uma nova disposição dos 15 números. Foi o que fiz, redistribuindo a matéria da seguinte ordem: 01 Liturgia; 02 Paróquias e outras realidades eclesiais; 03 Iniciação Cristã e NE; 04 Sacramento da Confirmação e a NE; 05 Catequese com Adultos; 06 Catecismo; 07 Sacramento da Penitência e NE; 08 Domingos e Festas; 09 Teologia; 10 Educação; 11A dimensão contemplativa da NE; 12 NE e opção pelos pobres; 13 Peregrinações e NE; 14 Enfermos; 15 Pontifício Conselho para promover a NE.
A proposta foi aprovada. E também aproveitei para pedir a mudança do título 06 Catecismo, por Catequese, Catequistas e Catecismo. Como disse, em nenhum lugar se fala dos catequistas nem da catequese explicitamente. Com o apoio de Dom Odilo Scherer, Arcebispo de São Paulo, (a palavra de um cardeal pesa muito), conseguimos acrescentar nesse mesmo número, um parágrafo sobre o catequista, através de uma citação do Instrumento de Trabalho e modificando o título desse no. 6 para: Catequistas e Catecismo... O texto poderia ser muito mais aperfeiçoado, mas foi o que conseguimos. O trecho acrescentado foi:
"Os catequistas são testemunhas diretas e evangelizadores insubstituíveis que representam a força basilar das comunidades cristãs. Têm necessidade que a Igreja reflita com maior profundidade sobre a sua missão, dando-lhes maior estabilidade, visibilidade ministerial e formação" (Instrumentum Laboris 108).
Outros temas bastante discutidos e com modificações aceitas e integradas no texto foram: as relações entre fé e ciência, um pedido para a Santa Sé que dê orientações mais claras e precisas sobre a situação de casais de segunda união ou canonicamente irregulares, inspirando-se na tradição da Igreja Ortodoxa e de outras igrejas cristãs; o texto sobre as comunicações foi muito mais ampliado, não ficando apenas no uso instrumental, mas entrando dentro da cultura midiática gerada ultimamente; deu-se maior importância às universidades e escolas católicas. O texto sobre a Liturgia foi muito mais ampliado e completado, graças à rica contribuição de Dom Geraldo Lírio, arcebispo de Mariana (MG).
Sobre a ordem e sequência dos sacramentos da iniciação para os batizados na infância (batismo, crisma, eucaristia, ou eucaristia e crisma) o texto saiu pela tangente, citando novamente a Sacramentum Caritatis e remetendo o problema para as dioceses e conferências episcopais.
Os trabalhos dos grupos terminaram um pouco mais cedo, de modo que todos puderam retornar antes do horário previsto, para suas residências, menos os 12 relatores dos círculos menores, que se reunirão com a equipe encarregada de unificar as preposições. Eles passarão amanhã todo o dia reunidos e trabalhando na segunda redação das Proposições para apresentá-las na sexta feira, quando haverá uma votação. Os outros, ganharemos um dia mais devacat, ou seja de tempo livre durante toda a quinta feira.
Ontem ouve a votação definitiva para a composição do Conselho do Sínodo, que irá ajudar o Papa a redigir a exortação apostólica sobre a Nova Evangelização, objeto de nossas reflexões e, depois, preparar o próximo Sínodo (2016 ou 2017). Foram 15 eleitos, três por continente. Para o continente americano foram eleitos: Dom Odilo Pedro Scherer, Cardeal Arcebispo de São Paulo (Brasil), Dom Santiago Jaime Silva Retamales, Bispo Auxiliar de Valparaiso (Chile) e Secretário Geral do CELAM e o Card. Timothy Michael Dolan, Arcebispo de New York (EUA).
Roma, 24 de Outubro de 2012, Quarta feira.
Pe Luiz Alves de Lima SDB

quarta-feira, 24 de outubro de 2012


Notícias do Sínodo dos Bispos 15 - Pe. Lima
MENSAGEM DO SÍNODO DE 2012 - II
Síntese da primeira redação do importante documento
O Calendário do Sínodo, em latim, diz no dia 22: vacat. Significa que não há reuniões nos círculos menores, nem no Plenário. Os relatores dos círculos menores junto com a direção geral do Sínodo e um grupo de assessores continuam, nesse dia, o trabalho já começado ontem, domingo: sintetizar as mais de 350 proposições sugeridas pelos 12 Círculos em apenas 50 proposições mais ou menos, seguindo, de um modo geral, as quatro grandes linhas já estabelecidas noInstrumento de Trabalho, ou seja: a natureza da NE, o contexto sociocultural onde se realiza a NE, as respostas pastorais a essa situação, os agentes e atores da NE.
Portanto, para a maioria dos participantes do Sínodo, foi uma segunda feira livre. O Superior Geral dos salesianos aproveitou dessa ocasião e convocou os 15 religiosos de sua congregação para um encontro fraterno, na Casa Salesiana que se situa dentro do território do Vaticano. Junto com os cinco que trabalham naquela obra, éramos 20 salesianos, que durante algumas horas convivemos fraternalmente, almoçando com nosso Superior Geral.
Apresento a seguir, os últimos números da primeira redação da Mensagem do Sínodo, cuja segunda redação certamente será apresentada amanhã.
Continuação da Mensagem do Sínodo (III)
12. Na contemplação do mistério, junto aos pobres. Queremos agora indicar duas expressões da vida de fé relevantes para testemunhá-la na NE. São dois símbolos que mostram nossa vontade de trilharmos hoje um caminho de regeneração da vida cristã. 1) O primeiro é o dom da contemplação do Mistério de Deus Pai, Filho e Espírito Santo: é daí que surgirá um testemunho crível para o mundo; esse silêncio contemplativo impedirá que a palavra da salvação seja confundida por tantos outros rumores. Somos gratos a quantos, em mosteiros e eremitérios, dedicam sua vida à oração e contemplação. Precisamos também de momentos contemplativos em nossa vida do dia a dia e de lugares que evocam a presença de Deus (santuários interiores e templos de pedra) onde todos possam ser acolhidos. 2) rosto do pobre: colocar-se ao lado deles não é somente ação social, mas sobretudo espiritual, pois neles resplandece o rosto do Salvador. A Igreja oferece o encontro com Cristo no ensino da verdade, na eucaristia, oração, comunhão fraterna e também no serviço da caridade. Devem ter um lugar especial em nossas comunidades: sua presença é misteriosamente poderosa para mostrar Cristo Jesus. A caridade deve ser acompanhada pela luta por justiça. Daí ser parte da NE a Doutrina Social da Igreja.
13. Nosso olhar quer envolver todas as comunidades religiosas dispersas pelo mundo, um olhar unitário, pois única é a chamada ao encontro com Cristo, sem esquecer as diversidades. Em primeiro lugar olhamos para as antigas Igrejas do Oriente, herdeiras da primeira difusão do Evangelho, cuja experiência guardam zelosamente: ela ensina que a NE é feita de vida litúrgica, catequese, oração familiar, jejum, solidariedade entre as famílias, participação dos leigos na vida da comunidade e diálogo com a sociedade. Muitas dessas Igrejas vivem no meio de tribulações testemunhando a Cruz de Cristo; alguns fiéis são forçados à emigração e levam a NE aos países que os acolhem. Que o Senhor abençoe essa fidelidade e lhes traga tempos de paz. Aos cristãos que vivem na África agradecemos o testemunho de vivência do Evangelho, muitas vezes em situações inumanas; exortamos a relançarem a evangelização recebida em tempos ainda recentes, a preservarem a identidade familiar, a sustentarem o trabalho dos sacerdotes e catequistas sobretudo nas pequenas comunidades e a continuarem o esforço de inculturação. Aos políticos fazemos um forte apelo pela promoção dos direitos humanos fundamentais e a libertação da violência ainda presente nesse continente. Convidamos os cristãos da América do Norte a responderem com alegria à convocação por uma NE enquanto admiramos os frutos generosos de fé, caridade e missão de suas jovens comunidades; mas reconhecemos que muitas expressões culturais norte-americanas estão longe do Evangelho; impõe-se um convite à conversão, para que, de dentro dessa cultura, os fiéis ofereçam a todos a luz da fé e a força da vida. Continuem a  acolher com generosidade imigrantes e refugiados e abram as portas da cultura à fé. Sejam solidários com os latino-americanos na permanente evangelização comum de todo continente. À América Latina e Caribe vai também o mesmo sentimento de gratidão; chama nossa atenção a riqueza de religiosidade popular desse continente. Os desafios da pobreza, violência, pluralismo religioso reforçam nossa exortação para o estado de missão permanente, anunciando o Evangelho com esperança e alegria, formando comunidades de discípulos missionários de Jesus, mostrando como seu Evangelho é fonte de uma nova sociedade justa e fraterna. Queremos encorajar os cristãos da Asia, continente que possui dois terços da população mundial; que a pequena minoria cristã seja semente fecunda germinada pelo Espírito Santo e cresça no diálogo com as diversas culturas; às vezes marginalizada ou envolta em perseguições a Igreja na Ásia é uma presença preciosa do Evangelho. Sintam a fraternidade e vizinhança dos outros países do mundo que não podem esquecer as origens asiáticas de Jesus: aí ele nasceu, viveu, morreu e ressuscitou. Reconhecimento e esperança são nossos sentimentos também pela Europa, hoje marcada em parte por uma forte secularização, às vezes agressiva e ferida por longos decênios de poder comunista. Tal reconhecimento é pelo passado e pelo presente: de fato a Europa criou experiências de fé, muitas vezes transbordantes de santidade, decisivas para a evangelização do mundo inteiro: rico pensamento teológico, expressões carismáticas variadas, formas inúmeras de serviço caritativo, experiências contemplativas, cultura humanista que contribuiu para a dignidade humana e construção do bem comum. Que as dificuldades do presente sejam vistas como oportunidades para um anúncio mais alegre e vivo do Evangelho. Saudamos, por fim, os povos da Oceania que vivem sob o signo do Cruzeiro do Sul e agradecemos seu testemunho de fé. Como a samaritana, ouçam também o apelo de Jesus: "Se conhecêsseis o dom de Deus...". Empenhem-se em pregar o Evangelho e tornar Cristo conhecido hoje no mundo.
               14. Ao final dessa experiência de comunhão de Bispos do mundo inteiro colaborando com o Sucessor de Pedro, sentimos a atualidade do mandato de Jesus: "Ide e fazei discípulos todos os povos. Eis que estou convosco todos os dias até o fim do mundo". Não se trata só de missão geográfica, mas de chegar aos corações de nossos contemporâneos para levá-los ao encontro com Cristo, vivo e presente em nossas comunidades. Essa presença nos enche de alegria e nos faz cantar: "A minha alma engrandece o Senhor... Ele fez por mim maravilhas". Fazemos nossas as palavras de Maria: ao longo dos séculos Ele fez grandes coisas pela sua Igreja e nós o glorificamos, certos de que não deixará de olhar nossa pequenez para mostrar a potência de seu braço, também em nossos dias e sustentar-nos no caminho da NE. Que Maria nos oriente no caminho, às vezes parecido com o deserto; mas levaremos o essencial: a companhia de Jesus, a verdade de sua palavra, o pão eucarístico que nos nutre, a fraternidade da comunhão eclesial, o impulso da caridade. Nas noites do deserto as estrelas são mais luminosas: assim no céu de nosso caminho resplandece, com vigor, a luz de Maria, Estrela da NE a quem nós, confiantes, nos entregamos.
Roma, 22 de Outubro de 2012, segunda feira.
Pe. Luiz Alves de Lima, sdb.

sexta-feira, 28 de setembro de 2012


A IGREJA NUM MUNDO EM MUDANÇA

Pe. Joel Portella Amado, Rio de Janeiro.

“Muitas vezes e de diversos modos”, já se falou a respeito do atual contexto que a Igreja vem enfrentando nas últimas décadas [1]. Este Congresso inicia seu conjunto de conferências voltando a este tema, no desejo de compreendê-lo em articulação com a animação bíblica da vida e da pastoral. Mesmo, portanto, já tendo sido abordado anteriormente, convém retornar, mais uma vez, à compreensão do atual momento eclesial.
Isto acontece porque falar sobre algo não implica necessariamente encontrar a solução dos problemas. Palestras, congressos, simpósios e todas as demais formas de estudo ajudam a compreender o fenômeno e com ele interagir. Diante de fenômenos complexos, convém o retorno a seu estudo inúmeras vezes, de modo que a compreensão se vá alargando, com o ingresso de novos elementos, como é o caso, neste Congresso, da animação bíblica. A solução, entretanto, se encontra lá fora, no dia-a-dia, onde a ação evangelizadora efetivamente acontece.

1.  Observações preliminares
Convém iniciar com duas observações por meio das quais se contextualiza o que está acontecendo. A primeira constatação nos leva a ultrapassar os limites da Igreja. O fenômeno que estamos experimentando não é específico da Igreja Católica. No âmbito religioso, ele atinge também as Igrejas da Reforma, notadamente as históricas, chegando até às demais religiões. Trata-se, portanto, de um fenômeno de amplo alcance. A diferença está no modo como ele atinge cada uma destas religiões e o modo como elas reagem.
A segunda observação alarga ainda mais o fenômeno, pois chama nossa atenção para o fato de que não se trata de algo específico desta ou daquela região do planeta. A realidade sobre a qual estamos falando diz respeito ao mundo todo, ainda que sob diversos graus de afetação. É por isso que um dos termos mais usados para descrevê-lo é exatamente globalização. O Documento de Aparecida, nos números 37-44, trata da globalização mostrando que, além de ser uma realidade geográfica, no sentido de que atinge praticamente todos os povos, é também existencial, pois abrange as diversas instâncias da vida de pessoas e povos.

2.      Do que estamos falando

Além do termo globalização, outras expressões têm sido utilizadas para manifestar o que está acontecendo com o mundo em nosso tempo. A expressão mais conhecida é pós-modernidade. A ela se somam outras (hipermodernidade, modernidade em crise, modernidade tardia etc..). O nome não importa tanto. Interessa mais compreender os mecanismos que estão atuando no atual momento e perceber o porquê da urgência que recai sobre a animação bíblica.
Para descrever esta realidade, gosto de utilizar um pequeno trecho das Diretrizes anteriores (2008-2010). Refiro-me ao final do nº 13, onde, através de um jogo de palavras, se descrevia, a meu ver com bastante clareza, o que está acontecendo em nossos dias. O texto afirma que, mais do que uma época de mudanças nossos dias experimentam uma verdadeira mudança de época. São situações que, embora parecidas, distinguem-se no nível de afetação e nas conseqüências que geram. Em comum, as duas têm a realidade das transformações num nível bastante elevado. Diferem, entretanto, no grau em que estas transformações atingem a vida de pessoas e povos. As épocas de mudança têm efeitos menos abrangentes que as mudanças de época. As épocas de mudança colocam diante de nós um conjunto de fatos novos, com os quais vamos interagir baseados em critérios solidamente estabelecidos. Nas épocas de mudança venha o que vier, estaremos preparados, pois sabemos o que somos, o que temos, no que cremos e com o que sonhamos.
As mudanças de época ultrapassam os limites dos fatos novos e chegam até os critérios, fazendo com que não exista tanta clareza do que sejamos, tenhamos, creiamos ou sonhemos. As épocas de mudança atingem o ver a realidade. As mudanças de época atingem o julgar [2]. Quando apenas o ver é atingido, mais facilmente se chega ao agir. Quando, porém, o julgar é afetado mais difícil se torna discernir a ação. É porque estamos numa mudança de época que, em diversas instâncias da vida, inclusive na ação evangelizadora, nos sentimos como que apalpando a realidade para chegar a soluções. Estamos, na verdade, tentando. Todos tentam. Cada um tenta a seu jeito. Em geral, as soluções possuem um caráter mais imediato e, às vezes, de curta duração. Crescem as tentativas individuais e a valorização do que é próprio de cada um, até mesmo com o prejuízo da pastoral de conjunto. Isso acontece porque as mudanças de época nos jogam para fora do navio, colocando-nos em meio a um mar agitado. Nesta hora, cada um busca a sua tábua de salvação e ... salve-se quem puder.

3.  A atual mudança de época

O caráter desconcertante da atual mudança de época decorre da radicalidade com que os critérios se transformaram e estão se transformando. Uma destas transformações consiste na passagem do que podemos chamar de perene ou eterno para o momentâneo ou passageiro. As diversas situações que vivemos tendem a não serem mais vistas como duradouras, eternas. Ao contrário, como bem conhecemos da poesia, elas são “eternas enquanto duram” [3]. Também aqui, neste aspecto, os exemplos são muitos. O mais conhecido é o do matrimônio. Caracterizado pela condição de perenidade, ou seja, por perdurar até que a morte ocasione a separação, o matrimônio se depara hoje com a característica de nem mesmo existir. Basta recordar o fenômeno de casais que, permanecendo, cada um em sua casa, encontram-se esporadicamente para o que melhor lhes convier. No campo das religiões, as conhecidas pesquisas ligadas ao censo anterior e realizadas no período próximo ao ano 2000, revelaram altos graus de mobilidade religiosa. As pessoas mudam de religião com facilidade maior que em outros tempos. Poderíamos permanecer aqui com vários exemplos. Estes, todavia, são suficientes para evocar uma realidade que conhecemos bem.
São, portanto, transformações em 180º. Períodos históricos anteriores se caracterizaram, dito a grosso modo, pelo predomínio do grupal sobre o individual, do institucional e do tradicional sobre as escolhas pessoais, do unificado sobre o diversificado. Nossos dias trouxeram para centro da cena, o individual e o plural, com a possibilidade de inúmeras escolhas, sem necessariamente estarem vinculadas a uma ou outra instituição, sem seguir esta o aquela tradição. Estamos vivendo um tempo de forte individualização da vida e consequentemente das crenças. Existem tantas possibilidades de ser, de existir, que cada indivíduo é chamado a fazer suas escolhas e a compor seu quadro de existência, sem o forte compromisso, próprio de outras épocas, de seguir a mesma tendência de seus antepassados, sem aderir às tradições e instituições transmissoras e garantidoras deste passado.
Nosso idioma permite compreender este fato com alguma facilidade, de modo especial quando, repletos de alegria, fazemos uso de algum serviço de atendimento por telefone e ouvimos, do outro lado da linha, algo do tipo “vou estar indo fazer o registro de sua reclamação; o senhor pode estar anotando o protocolo de sua reclamação?” Expressões do tipo “vou estar indo” ou “pode estar anotando”, além de ferirem ouvidos em termos de idioma pátrio, demonstram exatamente o que significa esta mentalidade do estar agora, sem se preocupar com que foi antes e, mais ainda, com o que será amanhã [4].
Este momento de passagem não implica exclusão do extremo oposto, mas inversão de prioridades ou primazia nos critérios. Perenidade, unidade, institucionalidade são condições humanas do existir e por isso sempre estarão presentes. A diferença é que não estão presentes nos primeiros lugares da lista. Valem como certos parentes que sabemos existirem, mas só os encontramos em casamentos ou funerais. Ninguém vai atrás deles. Eles é que aparecem em determinados contextos.

4.  O que fazer com esta mudança de época?

Várias são as atitudes diante de uma mudança de época. A primeira e mais comum é a que se agarra ao passado, confundindo, no caso da Fé, o que, de fato, é um dado de Fé com aquilo que é marca cultural e histórica. Em geral, são chamados de fundamentalistas [5]. O outro extremo, sem um nome específico que o identifique, se caracteriza pela ruptura, em alguns casos praticamente total, entre os dados centrais da Fé e as marcas histórico-culturais. Enquanto os primeiros, isto é, os fundamentalistas, não permitem que se faça a passagem para o novo momento histórico, os outros fazem uma passagem tão extrema que acabam por perder até mesmo a identidade.
Isto acontece porque as mudanças de época, exatamente por tocarem nos alicerces, atingem muito diretamente as identidades. O que é, em nossos dias, ser cristão, ser político, ser marido ou esposa, educador, pai ou mãe, ministro religioso e assim por diante? Cada um tem seu jeito de vivenciar estas situações exemplificadas. E não se trata de uma decorrência da diversidade própria do ser humano. As pessoas são diferentes, mas sua diversidade, nos períodos de consolidação, tendem a acontecer num determinado espaço razoavelmente circunscrito. Nas mudanças de época, a variação nos jeitos de ser é quase infinita.
É bem provável que fique a impressão de que as mudanças de época são de todo negativas. Se, por um lado, não podemos negar o caráter desconcertante destes períodos, pois eles nos tiram o chão da existência, por outro, as mudanças de época são momentos muito propícios para o crescimento pessoal e comunitário. Isto acontece porque, ao retirar o chão das garantias histórico-culturais, as mudanças de época nos empurram para aquilo que é essencial em nossas vidas. Pedem uma revisão em nossa identidade. O que é ser um bom profissional, amigo, cônjuge, ministro religioso e, no nível mais profundo, uma pessoa de fé?
Para responder, sabemos que é necessário distinguir duas realidades que, na prática, acontecem integradas. De um lado, temos a Fé. De outro, temos as concretizações histórico-culturais desta mesma Fé. Uma coisa é crer em Jesus Cristo, morto e ressuscitado para a nossa salvação; outra, vivenciar esta Fé em, por exemplo, procissões, assembléias ou tardes de louvor. Estes três exemplos, que podem nem ser os melhores, são concretizações históricas de algo que está além do momento histórico em que vivemos, ou seja, nossa adesão viva e integral a Jesus Cristo e nosso compromisso com o Reino de Deus.
Sabemos que, na prática, a Fé e suas concretizações históricas e culturais caminham juntas. A Fé só é acolhida, vivenciada e transmitida a partir das culturas. Toda vivência da Fé obedece sempre a parâmetros culturais. Nos períodos de consolidação, Fé e cultura(s) tendem a se aproximar bastante, a ponto de, muitas vezes se correr o risco de se considerar como dado de Fé algo que é cultural. As mudanças de época trazem, como uma de suas conseqüências, a separação entre o que é dado da Fé e as marcas da(s) cultura(s). No caso da atual mudança de época, deparamo-nos com categorias que sempre estiveram presentes na existência de nossos antepassados e mesmo na nossa existência. A diferença consiste no fato de que eram vistas não como o padrão a ser seguido, mas como exceções. Ao contrário, em nossos dias, deparamo-nos com todo o peso da provisoriedade, do momentâneo, da diversidade. Por certo, todas as características da atual mudança de época nunca desapareceram do cenário da vida. Elas são realidades humanas que estavam deixadas de lado, na periferia de uma mentalidade que valorizava mais o eterno, o imutável, o essencial. Agora, características opostas foram trazidas para os primeiros lugares na lista de importâncias. Esta nova centralidade é tão importante e aguda que, mesmo sem sentir ou concordar, acabamos sendo levados por ela. O mundo de nossos dias, pelo menos em sua parte ocidental, está marcado por forte mobilidade não apenas física, mas, como lembrado antes, existencial.
Esta transformação, ao trazer para o centro da vida humana aspectos que estavam, por séculos, na periferia das compreensões, faz emergir uma questão bastante séria: a questão pela possibilidade de se viver o cristianismo num contexto como este. É possível viver a fé num contexto de mobilidade, de transitoriedade?Daí a pergunta: pode-se viver a experiência cristã em termos de mobilidade? Formulando de outro modo: que vínculos existe entre a experiência bíblica de Deus e a mobilidade, a provisoriedade, a transitoriedade e todas as demais características deste tempo atual?
Quando colocada deste modo, a pergunta pela possibilidade da experiência cristã em contexto de mobilidade pede de nós a mesma atitude daquele “pai de família que tira de seu tesouro coisas novas e velhas” (cf. Mt 13,52). As mudanças de época fazem com que tiremos de nosso tesouro coisas novas que, na verdade, são velhas, ou, então, coisas velhas que, diante de novos contextos, tornam-se novas. A mobilidade é uma delas. O problema é que não estamos acostumados a lidar com ela.


5.  O cristianismo é também mobilidade

Quando nos voltamos, de modo orante, para a Escritura Sagrada, encontramos um fio condutor de mobilidade. A experiência bíblica veterotestamentária emerge do êxodo, saída de um lugar de escravidão para ingresso na terra prometida, antecedido por um período longo de peregrinação deserto adentro. Qual é a primeira ordem divina transmitida a Abrão? “Sai da tua terra e caminha, peregrina até onde eu te mostrarei!”
Se pularmos para o Novo Testamento, deparamo-nos com o Filho do Homem não tendo onde reclinar a cabeça (Mt 8,20), andando de cidade em cidade (Lc 4,43) enviando os discípulos na mesma situação, sem muitos apoios ou condições de estagnação (Lc 10,4). Descobrimos Jesus de Nazaré quebrando os paradigmas exatamente de uma mentalidade que, por ser excessivamente estática, tornava-se incapaz de acolher o Messias que estava por vir, que já passava entre eles, peregrinando no meio de toda aquela gente, de modo especial entre os sofredores. Como não pensar em textos como o do filho de Timeu, cego e estaticamente sentado à margem da vida (Mc 10,46-52). Jesus, o Messias, está passando. O cego grita. A mentalidade estática lhe diz “cala”. Jesus, porém, interrompe o caminhar, acolhe o cego indigente e o põe a caminho. Jesus pára de caminhar para por alguém no caminho do Reino. É também interessante observar os milagres. Jesus, ao manifestar o Reino de Deus, através de prodígios, emite dois tipos de palavras, ambos ligados à mobilidade: ou diz “Vai (tua fé te salvou) ou convida: Vem (e segue-me). Nos dois casos, movimento.
Estes são apenas exemplos. Se nos deixarem, ficaremos longo tempo a recordar textos bíblicos e nossa lista aumentará em muito. Basta nos lembrarmos que “não temos aqui cidade permanente, mas estamos à procura da que está por vir” (Hb 13,14). Somos sempre a Igreja que, à semelhança das moças que aguardam seu senhor voltar (Mt 25,1-13), a Ele diz incessantemente “Vem”. O fato é que sempre encontraremos mobilidade na experiência bíblica de Deus.

6.  Mobilidade, sim. Perda de identidade, não.

Por certo, quando falamos em mobilidade, não estamos nos referindo ao que não se enraíza. Em geral, costumamos deixar uma planta quieta, exatamente para que crie suas raízes e se torne consequentemente firme. O paradoxo do Reino de Deus é que a mobilidade, quando vivida no compromisso com este Reino, no discipulado-missionário de Jesus Cristo, cria raízes, não aqui ou acolá, mas exatamente onde o Reino acontece: cria raízes no interior de cada pessoa e no conjunto de valores que compõem uma cultura. Despega-nos de tudo mais, desinstala, para que, livres, caminhemos (cf. 1 Cr 9,24-27) rumo Àquele que, embora de condição divina, não permaneceu estático, mas viveu de modo extremo a mobilidade, que se esvaziou, fazendo-se um de nós, exceto no pecado (cf Fp 2,6-11). Ao amar os seus até o extremo (cf. Jo 13,1), abandonou as seguranças da posição de Mestre (cf. Jo 13,4-15; Mc. 10,35-45), deixando-se crucificar por amor de nós.
A mobilidade pode ser desumanizante quando, no nível da geografia, pessoas e grupos são obrigados a se deslocar de suas terras em busca de sobrevivência. A mobilidade pode ainda ser desumanizante quando, em decorrência de fatores puramente estéticos, leva pessoas a não se contentarem com o que são, mas ingressarem numa desenfreada busca de aparência e contínua adaptação aos padrões do momento. A mobilidade pode, em terceiro lugar, ser desumanizante quando retira das pessoas as categorias de compromisso, de entrega de si, de adesão radical, como acontece no exemplo mais conhecido, o dos matrimônios.

7.  Por onde, então, deve passar a ação evangelizadora?

Esta é a razão pela qual as atuais Diretrizes Gerais da Ação Evangelizadora colocam, entre as urgências, exatamente a animação bíblica da vida e da pastoral[6]. As mudanças de época são sempre tempos propícios para se redescobrir que o contato pessoal e comunitário com a Palavra de Deus é “lugar privilegiado de encontro com Jesus Cristo” (DGAE 45). Não se trata, insistem as Diretrizes, de uma espécie de modismo, atitude momentânea, fruto exatamente deste período histórico, em que tudo é passageiro, com posturas e opções que, logo em seguida, são descartadas. (Idem, 46). O contato orante, pessoal e comunitário, com as Escrituras deve ser uma das características deste tempo. Por meio deste contato, o discípulo-missionário de hoje haverá de deixar a Palavra falar por si e, nela, encontrar o significado autêntico de uma experiência salvífica que, na mobilidade e na transitoriedade desta vida, é convite constante à perenidade do Reino de Deus.


[1] AMADO, Joel Portella, Mas que loucura! O desafio de seguir Jesus Cristo no século XXI, em: RUBIO, A. G . e AMADO, J. P. (Orgs.), Espiritualidade Cristã em tempos de mudança. Contribuições teológico-pastorais, Petrópolis, Vozes, 2010, p. 17-32;  IDEM, Catequese num mundo em transformação. Desafios do contexto sociocultural, religioso e eclesial para a iniciação cristã, em: CNBB – Comissão Episcopal para a Animação Bíblico-Catequética, Brasília, Edições CNBB, 2010, p. 45-56
[2] No dizer da Exortação Apostólica Evangellii Nuntiandi, atingem os “critérios de julgar, os valores que contam, os centros de interesse, as linhas de pensamento, as fontes inspiradoras e os modelos de vida da humanidade (EN 19).
[3] cf  MORAES, V., Soneto de Fidelidade, em: MORAES, V., Antologia Poética, Rio de Janeiro, Edições do Autor, 1960, p. 96.
[4] Dizem até que um dos hinos do atual momento poderia ser: “nada do que foi será do jeito que já foi um dia” (Lulu Santos).
[5] Sobre o fundamentalismo, existem diversas obras publicas e mesmo artigos que ajudarão a compreender o fenômeno. O termo é complexo. Aplicado inicialmente à leitura bíblica, alargou-se para significar uma forma de compreensão da totalidade da vida. Em termos bíblicos, a expressão remete a dois autores norte-americanos: Amzi C. Dixon e Reuben A. Torrey. Seus textos foram publicados no período entre 1909 e 1915. com tradução recente para o português: Os Fundamentos: a famosa coletânea das verdades bíblicas fundamentais. São Paulo, Hagnos, 2005. Também: DE BONI, L. A., Fundamentalismo, Porto Alegre, Edipucrs, 1995. Nesta obra, o alarga-se o conceito de fundamentalismo como concepção de vida.
[6] JOÃO PAULO II, Exortação Apostólica Tertio Millenio Adveniente, 40


A IGREJA NUM MUNDO EM MUDANÇA

Pe. Joel Portella Amado, Rio de Janeiro.

“Muitas vezes e de diversos modos”, já se falou a respeito do atual contexto que a Igreja vem enfrentando nas últimas décadas [1]. Este Congresso inicia seu conjunto de conferências voltando a este tema, no desejo de compreendê-lo em articulação com a animação bíblica da vida e da pastoral. Mesmo, portanto, já tendo sido abordado anteriormente, convém retornar, mais uma vez, à compreensão do atual momento eclesial.
Isto acontece porque falar sobre algo não implica necessariamente encontrar a solução dos problemas. Palestras, congressos, simpósios e todas as demais formas de estudo ajudam a compreender o fenômeno e com ele interagir. Diante de fenômenos complexos, convém o retorno a seu estudo inúmeras vezes, de modo que a compreensão se vá alargando, com o ingresso de novos elementos, como é o caso, neste Congresso, da animação bíblica. A solução, entretanto, se encontra lá fora, no dia-a-dia, onde a ação evangelizadora efetivamente acontece.

1.  Observações preliminares
Convém iniciar com duas observações por meio das quais se contextualiza o que está acontecendo. A primeira constatação nos leva a ultrapassar os limites da Igreja. O fenômeno que estamos experimentando não é específico da Igreja Católica. No âmbito religioso, ele atinge também as Igrejas da Reforma, notadamente as históricas, chegando até às demais religiões. Trata-se, portanto, de um fenômeno de amplo alcance. A diferença está no modo como ele atinge cada uma destas religiões e o modo como elas reagem.
A segunda observação alarga ainda mais o fenômeno, pois chama nossa atenção para o fato de que não se trata de algo específico desta ou daquela região do planeta. A realidade sobre a qual estamos falando diz respeito ao mundo todo, ainda que sob diversos graus de afetação. É por isso que um dos termos mais usados para descrevê-lo é exatamente globalização. O Documento de Aparecida, nos números 37-44, trata da globalização mostrando que, além de ser uma realidade geográfica, no sentido de que atinge praticamente todos os povos, é também existencial, pois abrange as diversas instâncias da vida de pessoas e povos.

2.      Do que estamos falando

Além do termo globalização, outras expressões têm sido utilizadas para manifestar o que está acontecendo com o mundo em nosso tempo. A expressão mais conhecida é pós-modernidade. A ela se somam outras (hipermodernidade, modernidade em crise, modernidade tardia etc..). O nome não importa tanto. Interessa mais compreender os mecanismos que estão atuando no atual momento e perceber o porquê da urgência que recai sobre a animação bíblica.
Para descrever esta realidade, gosto de utilizar um pequeno trecho das Diretrizes anteriores (2008-2010). Refiro-me ao final do nº 13, onde, através de um jogo de palavras, se descrevia, a meu ver com bastante clareza, o que está acontecendo em nossos dias. O texto afirma que, mais do que uma época de mudanças nossos dias experimentam uma verdadeira mudança de época. São situações que, embora parecidas, distinguem-se no nível de afetação e nas conseqüências que geram. Em comum, as duas têm a realidade das transformações num nível bastante elevado. Diferem, entretanto, no grau em que estas transformações atingem a vida de pessoas e povos. As épocas de mudança têm efeitos menos abrangentes que as mudanças de época. As épocas de mudança colocam diante de nós um conjunto de fatos novos, com os quais vamos interagir baseados em critérios solidamente estabelecidos. Nas épocas de mudança venha o que vier, estaremos preparados, pois sabemos o que somos, o que temos, no que cremos e com o que sonhamos.
As mudanças de época ultrapassam os limites dos fatos novos e chegam até os critérios, fazendo com que não exista tanta clareza do que sejamos, tenhamos, creiamos ou sonhemos. As épocas de mudança atingem o ver a realidade. As mudanças de época atingem o julgar [2]. Quando apenas o ver é atingido, mais facilmente se chega ao agir. Quando, porém, o julgar é afetado mais difícil se torna discernir a ação. É porque estamos numa mudança de época que, em diversas instâncias da vida, inclusive na ação evangelizadora, nos sentimos como que apalpando a realidade para chegar a soluções. Estamos, na verdade, tentando. Todos tentam. Cada um tenta a seu jeito. Em geral, as soluções possuem um caráter mais imediato e, às vezes, de curta duração. Crescem as tentativas individuais e a valorização do que é próprio de cada um, até mesmo com o prejuízo da pastoral de conjunto. Isso acontece porque as mudanças de época nos jogam para fora do navio, colocando-nos em meio a um mar agitado. Nesta hora, cada um busca a sua tábua de salvação e ... salve-se quem puder.

3.  A atual mudança de época

O caráter desconcertante da atual mudança de época decorre da radicalidade com que os critérios se transformaram e estão se transformando. Uma destas transformações consiste na passagem do que podemos chamar de perene ou eterno para o momentâneo ou passageiro. As diversas situações que vivemos tendem a não serem mais vistas como duradouras, eternas. Ao contrário, como bem conhecemos da poesia, elas são “eternas enquanto duram” [3]. Também aqui, neste aspecto, os exemplos são muitos. O mais conhecido é o do matrimônio. Caracterizado pela condição de perenidade, ou seja, por perdurar até que a morte ocasione a separação, o matrimônio se depara hoje com a característica de nem mesmo existir. Basta recordar o fenômeno de casais que, permanecendo, cada um em sua casa, encontram-se esporadicamente para o que melhor lhes convier. No campo das religiões, as conhecidas pesquisas ligadas ao censo anterior e realizadas no período próximo ao ano 2000, revelaram altos graus de mobilidade religiosa. As pessoas mudam de religião com facilidade maior que em outros tempos. Poderíamos permanecer aqui com vários exemplos. Estes, todavia, são suficientes para evocar uma realidade que conhecemos bem.
São, portanto, transformações em 180º. Períodos históricos anteriores se caracterizaram, dito a grosso modo, pelo predomínio do grupal sobre o individual, do institucional e do tradicional sobre as escolhas pessoais, do unificado sobre o diversificado. Nossos dias trouxeram para centro da cena, o individual e o plural, com a possibilidade de inúmeras escolhas, sem necessariamente estarem vinculadas a uma ou outra instituição, sem seguir esta o aquela tradição. Estamos vivendo um tempo de forte individualização da vida e consequentemente das crenças. Existem tantas possibilidades de ser, de existir, que cada indivíduo é chamado a fazer suas escolhas e a compor seu quadro de existência, sem o forte compromisso, próprio de outras épocas, de seguir a mesma tendência de seus antepassados, sem aderir às tradições e instituições transmissoras e garantidoras deste passado.
Nosso idioma permite compreender este fato com alguma facilidade, de modo especial quando, repletos de alegria, fazemos uso de algum serviço de atendimento por telefone e ouvimos, do outro lado da linha, algo do tipo “vou estar indo fazer o registro de sua reclamação; o senhor pode estar anotando o protocolo de sua reclamação?” Expressões do tipo “vou estar indo” ou “pode estar anotando”, além de ferirem ouvidos em termos de idioma pátrio, demonstram exatamente o que significa esta mentalidade do estar agora, sem se preocupar com que foi antes e, mais ainda, com o que será amanhã [4].
Este momento de passagem não implica exclusão do extremo oposto, mas inversão de prioridades ou primazia nos critérios. Perenidade, unidade, institucionalidade são condições humanas do existir e por isso sempre estarão presentes. A diferença é que não estão presentes nos primeiros lugares da lista. Valem como certos parentes que sabemos existirem, mas só os encontramos em casamentos ou funerais. Ninguém vai atrás deles. Eles é que aparecem em determinados contextos.

4.  O que fazer com esta mudança de época?

Várias são as atitudes diante de uma mudança de época. A primeira e mais comum é a que se agarra ao passado, confundindo, no caso da Fé, o que, de fato, é um dado de Fé com aquilo que é marca cultural e histórica. Em geral, são chamados de fundamentalistas [5]. O outro extremo, sem um nome específico que o identifique, se caracteriza pela ruptura, em alguns casos praticamente total, entre os dados centrais da Fé e as marcas histórico-culturais. Enquanto os primeiros, isto é, os fundamentalistas, não permitem que se faça a passagem para o novo momento histórico, os outros fazem uma passagem tão extrema que acabam por perder até mesmo a identidade.
Isto acontece porque as mudanças de época, exatamente por tocarem nos alicerces, atingem muito diretamente as identidades. O que é, em nossos dias, ser cristão, ser político, ser marido ou esposa, educador, pai ou mãe, ministro religioso e assim por diante? Cada um tem seu jeito de vivenciar estas situações exemplificadas. E não se trata de uma decorrência da diversidade própria do ser humano. As pessoas são diferentes, mas sua diversidade, nos períodos de consolidação, tendem a acontecer num determinado espaço razoavelmente circunscrito. Nas mudanças de época, a variação nos jeitos de ser é quase infinita.
É bem provável que fique a impressão de que as mudanças de época são de todo negativas. Se, por um lado, não podemos negar o caráter desconcertante destes períodos, pois eles nos tiram o chão da existência, por outro, as mudanças de época são momentos muito propícios para o crescimento pessoal e comunitário. Isto acontece porque, ao retirar o chão das garantias histórico-culturais, as mudanças de época nos empurram para aquilo que é essencial em nossas vidas. Pedem uma revisão em nossa identidade. O que é ser um bom profissional, amigo, cônjuge, ministro religioso e, no nível mais profundo, uma pessoa de fé?
Para responder, sabemos que é necessário distinguir duas realidades que, na prática, acontecem integradas. De um lado, temos a Fé. De outro, temos as concretizações histórico-culturais desta mesma Fé. Uma coisa é crer em Jesus Cristo, morto e ressuscitado para a nossa salvação; outra, vivenciar esta Fé em, por exemplo, procissões, assembléias ou tardes de louvor. Estes três exemplos, que podem nem ser os melhores, são concretizações históricas de algo que está além do momento histórico em que vivemos, ou seja, nossa adesão viva e integral a Jesus Cristo e nosso compromisso com o Reino de Deus.
Sabemos que, na prática, a Fé e suas concretizações históricas e culturais caminham juntas. A Fé só é acolhida, vivenciada e transmitida a partir das culturas. Toda vivência da Fé obedece sempre a parâmetros culturais. Nos períodos de consolidação, Fé e cultura(s) tendem a se aproximar bastante, a ponto de, muitas vezes se correr o risco de se considerar como dado de Fé algo que é cultural. As mudanças de época trazem, como uma de suas conseqüências, a separação entre o que é dado da Fé e as marcas da(s) cultura(s). No caso da atual mudança de época, deparamo-nos com categorias que sempre estiveram presentes na existência de nossos antepassados e mesmo na nossa existência. A diferença consiste no fato de que eram vistas não como o padrão a ser seguido, mas como exceções. Ao contrário, em nossos dias, deparamo-nos com todo o peso da provisoriedade, do momentâneo, da diversidade. Por certo, todas as características da atual mudança de época nunca desapareceram do cenário da vida. Elas são realidades humanas que estavam deixadas de lado, na periferia de uma mentalidade que valorizava mais o eterno, o imutável, o essencial. Agora, características opostas foram trazidas para os primeiros lugares na lista de importâncias. Esta nova centralidade é tão importante e aguda que, mesmo sem sentir ou concordar, acabamos sendo levados por ela. O mundo de nossos dias, pelo menos em sua parte ocidental, está marcado por forte mobilidade não apenas física, mas, como lembrado antes, existencial.
Esta transformação, ao trazer para o centro da vida humana aspectos que estavam, por séculos, na periferia das compreensões, faz emergir uma questão bastante séria: a questão pela possibilidade de se viver o cristianismo num contexto como este. É possível viver a fé num contexto de mobilidade, de transitoriedade?Daí a pergunta: pode-se viver a experiência cristã em termos de mobilidade? Formulando de outro modo: que vínculos existe entre a experiência bíblica de Deus e a mobilidade, a provisoriedade, a transitoriedade e todas as demais características deste tempo atual?
Quando colocada deste modo, a pergunta pela possibilidade da experiência cristã em contexto de mobilidade pede de nós a mesma atitude daquele “pai de família que tira de seu tesouro coisas novas e velhas” (cf. Mt 13,52). As mudanças de época fazem com que tiremos de nosso tesouro coisas novas que, na verdade, são velhas, ou, então, coisas velhas que, diante de novos contextos, tornam-se novas. A mobilidade é uma delas. O problema é que não estamos acostumados a lidar com ela.


5.  O cristianismo é também mobilidade

Quando nos voltamos, de modo orante, para a Escritura Sagrada, encontramos um fio condutor de mobilidade. A experiência bíblica veterotestamentária emerge do êxodo, saída de um lugar de escravidão para ingresso na terra prometida, antecedido por um período longo de peregrinação deserto adentro. Qual é a primeira ordem divina transmitida a Abrão? “Sai da tua terra e caminha, peregrina até onde eu te mostrarei!”
Se pularmos para o Novo Testamento, deparamo-nos com o Filho do Homem não tendo onde reclinar a cabeça (Mt 8,20), andando de cidade em cidade (Lc 4,43) enviando os discípulos na mesma situação, sem muitos apoios ou condições de estagnação (Lc 10,4). Descobrimos Jesus de Nazaré quebrando os paradigmas exatamente de uma mentalidade que, por ser excessivamente estática, tornava-se incapaz de acolher o Messias que estava por vir, que já passava entre eles, peregrinando no meio de toda aquela gente, de modo especial entre os sofredores. Como não pensar em textos como o do filho de Timeu, cego e estaticamente sentado à margem da vida (Mc 10,46-52). Jesus, o Messias, está passando. O cego grita. A mentalidade estática lhe diz “cala”. Jesus, porém, interrompe o caminhar, acolhe o cego indigente e o põe a caminho. Jesus pára de caminhar para por alguém no caminho do Reino. É também interessante observar os milagres. Jesus, ao manifestar o Reino de Deus, através de prodígios, emite dois tipos de palavras, ambos ligados à mobilidade: ou diz “Vai (tua fé te salvou) ou convida: Vem (e segue-me). Nos dois casos, movimento.
Estes são apenas exemplos. Se nos deixarem, ficaremos longo tempo a recordar textos bíblicos e nossa lista aumentará em muito. Basta nos lembrarmos que “não temos aqui cidade permanente, mas estamos à procura da que está por vir” (Hb 13,14). Somos sempre a Igreja que, à semelhança das moças que aguardam seu senhor voltar (Mt 25,1-13), a Ele diz incessantemente “Vem”. O fato é que sempre encontraremos mobilidade na experiência bíblica de Deus.

6.  Mobilidade, sim. Perda de identidade, não.

Por certo, quando falamos em mobilidade, não estamos nos referindo ao que não se enraíza. Em geral, costumamos deixar uma planta quieta, exatamente para que crie suas raízes e se torne consequentemente firme. O paradoxo do Reino de Deus é que a mobilidade, quando vivida no compromisso com este Reino, no discipulado-missionário de Jesus Cristo, cria raízes, não aqui ou acolá, mas exatamente onde o Reino acontece: cria raízes no interior de cada pessoa e no conjunto de valores que compõem uma cultura. Despega-nos de tudo mais, desinstala, para que, livres, caminhemos (cf. 1 Cr 9,24-27) rumo Àquele que, embora de condição divina, não permaneceu estático, mas viveu de modo extremo a mobilidade, que se esvaziou, fazendo-se um de nós, exceto no pecado (cf Fp 2,6-11). Ao amar os seus até o extremo (cf. Jo 13,1), abandonou as seguranças da posição de Mestre (cf. Jo 13,4-15; Mc. 10,35-45), deixando-se crucificar por amor de nós.
A mobilidade pode ser desumanizante quando, no nível da geografia, pessoas e grupos são obrigados a se deslocar de suas terras em busca de sobrevivência. A mobilidade pode ainda ser desumanizante quando, em decorrência de fatores puramente estéticos, leva pessoas a não se contentarem com o que são, mas ingressarem numa desenfreada busca de aparência e contínua adaptação aos padrões do momento. A mobilidade pode, em terceiro lugar, ser desumanizante quando retira das pessoas as categorias de compromisso, de entrega de si, de adesão radical, como acontece no exemplo mais conhecido, o dos matrimônios.

7.  Por onde, então, deve passar a ação evangelizadora?

Esta é a razão pela qual as atuais Diretrizes Gerais da Ação Evangelizadora colocam, entre as urgências, exatamente a animação bíblica da vida e da pastoral[6]. As mudanças de época são sempre tempos propícios para se redescobrir que o contato pessoal e comunitário com a Palavra de Deus é “lugar privilegiado de encontro com Jesus Cristo” (DGAE 45). Não se trata, insistem as Diretrizes, de uma espécie de modismo, atitude momentânea, fruto exatamente deste período histórico, em que tudo é passageiro, com posturas e opções que, logo em seguida, são descartadas. (Idem, 46). O contato orante, pessoal e comunitário, com as Escrituras deve ser uma das características deste tempo. Por meio deste contato, o discípulo-missionário de hoje haverá de deixar a Palavra falar por si e, nela, encontrar o significado autêntico de uma experiência salvífica que, na mobilidade e na transitoriedade desta vida, é convite constante à perenidade do Reino de Deus.


[1] AMADO, Joel Portella, Mas que loucura! O desafio de seguir Jesus Cristo no século XXI, em: RUBIO, A. G . e AMADO, J. P. (Orgs.), Espiritualidade Cristã em tempos de mudança. Contribuições teológico-pastorais, Petrópolis, Vozes, 2010, p. 17-32;  IDEM, Catequese num mundo em transformação. Desafios do contexto sociocultural, religioso e eclesial para a iniciação cristã, em: CNBB – Comissão Episcopal para a Animação Bíblico-Catequética, Brasília, Edições CNBB, 2010, p. 45-56
[2] No dizer da Exortação Apostólica Evangellii Nuntiandi, atingem os “critérios de julgar, os valores que contam, os centros de interesse, as linhas de pensamento, as fontes inspiradoras e os modelos de vida da humanidade (EN 19).
[3] cf  MORAES, V., Soneto de Fidelidade, em: MORAES, V., Antologia Poética, Rio de Janeiro, Edições do Autor, 1960, p. 96.
[4] Dizem até que um dos hinos do atual momento poderia ser: “nada do que foi será do jeito que já foi um dia” (Lulu Santos).
[5] Sobre o fundamentalismo, existem diversas obras publicas e mesmo artigos que ajudarão a compreender o fenômeno. O termo é complexo. Aplicado inicialmente à leitura bíblica, alargou-se para significar uma forma de compreensão da totalidade da vida. Em termos bíblicos, a expressão remete a dois autores norte-americanos: Amzi C. Dixon e Reuben A. Torrey. Seus textos foram publicados no período entre 1909 e 1915. com tradução recente para o português: Os Fundamentos: a famosa coletânea das verdades bíblicas fundamentais. São Paulo, Hagnos, 2005. Também: DE BONI, L. A., Fundamentalismo, Porto Alegre, Edipucrs, 1995. Nesta obra, o alarga-se o conceito de fundamentalismo como concepção de vida.
[6] JOÃO PAULO II, Exortação Apostólica Tertio Millenio Adveniente, 40

A Igreja num mundo em mudanças


A IGREJA NUM MUNDO EM MUDANÇA

Pe. Joel Portella Amado, Rio de Janeiro.

“Muitas vezes e de diversos modos”, já se falou a respeito do atual contexto que a Igreja vem enfrentando nas últimas décadas [1]. Este Congresso inicia seu conjunto de conferências voltando a este tema, no desejo de compreendê-lo em articulação com a animação bíblica da vida e da pastoral. Mesmo, portanto, já tendo sido abordado anteriormente, convém retornar, mais uma vez, à compreensão do atual momento eclesial.
Isto acontece porque falar sobre algo não implica necessariamente encontrar a solução dos problemas. Palestras, congressos, simpósios e todas as demais formas de estudo ajudam a compreender o fenômeno e com ele interagir. Diante de fenômenos complexos, convém o retorno a seu estudo inúmeras vezes, de modo que a compreensão se vá alargando, com o ingresso de novos elementos, como é o caso, neste Congresso, da animação bíblica. A solução, entretanto, se encontra lá fora, no dia-a-dia, onde a ação evangelizadora efetivamente acontece.

1.  Observações preliminares
Convém iniciar com duas observações por meio das quais se contextualiza o que está acontecendo. A primeira constatação nos leva a ultrapassar os limites da Igreja. O fenômeno que estamos experimentando não é específico da Igreja Católica. No âmbito religioso, ele atinge também as Igrejas da Reforma, notadamente as históricas, chegando até às demais religiões. Trata-se, portanto, de um fenômeno de amplo alcance. A diferença está no modo como ele atinge cada uma destas religiões e o modo como elas reagem.
A segunda observação alarga ainda mais o fenômeno, pois chama nossa atenção para o fato de que não se trata de algo específico desta ou daquela região do planeta. A realidade sobre a qual estamos falando diz respeito ao mundo todo, ainda que sob diversos graus de afetação. É por isso que um dos termos mais usados para descrevê-lo é exatamente globalização. O Documento de Aparecida, nos números 37-44, trata da globalização mostrando que, além de ser uma realidade geográfica, no sentido de que atinge praticamente todos os povos, é também existencial, pois abrange as diversas instâncias da vida de pessoas e povos.

2.      Do que estamos falando

Além do termo globalização, outras expressões têm sido utilizadas para manifestar o que está acontecendo com o mundo em nosso tempo. A expressão mais conhecida é pós-modernidade. A ela se somam outras (hipermodernidade, modernidade em crise, modernidade tardia etc..). O nome não importa tanto. Interessa mais compreender os mecanismos que estão atuando no atual momento e perceber o porquê da urgência que recai sobre a animação bíblica.
Para descrever esta realidade, gosto de utilizar um pequeno trecho das Diretrizes anteriores (2008-2010). Refiro-me ao final do nº 13, onde, através de um jogo de palavras, se descrevia, a meu ver com bastante clareza, o que está acontecendo em nossos dias. O texto afirma que, mais do que uma época de mudanças nossos dias experimentam uma verdadeira mudança de época. São situações que, embora parecidas, distinguem-se no nível de afetação e nas conseqüências que geram. Em comum, as duas têm a realidade das transformações num nível bastante elevado. Diferem, entretanto, no grau em que estas transformações atingem a vida de pessoas e povos. As épocas de mudança têm efeitos menos abrangentes que as mudanças de época. As épocas de mudança colocam diante de nós um conjunto de fatos novos, com os quais vamos interagir baseados em critérios solidamente estabelecidos. Nas épocas de mudança venha o que vier, estaremos preparados, pois sabemos o que somos, o que temos, no que cremos e com o que sonhamos.
As mudanças de época ultrapassam os limites dos fatos novos e chegam até os critérios, fazendo com que não exista tanta clareza do que sejamos, tenhamos, creiamos ou sonhemos. As épocas de mudança atingem o ver a realidade. As mudanças de época atingem o julgar [2]. Quando apenas o ver é atingido, mais facilmente se chega ao agir. Quando, porém, o julgar é afetado mais difícil se torna discernir a ação. É porque estamos numa mudança de época que, em diversas instâncias da vida, inclusive na ação evangelizadora, nos sentimos como que apalpando a realidade para chegar a soluções. Estamos, na verdade, tentando. Todos tentam. Cada um tenta a seu jeito. Em geral, as soluções possuem um caráter mais imediato e, às vezes, de curta duração. Crescem as tentativas individuais e a valorização do que é próprio de cada um, até mesmo com o prejuízo da pastoral de conjunto. Isso acontece porque as mudanças de época nos jogam para fora do navio, colocando-nos em meio a um mar agitado. Nesta hora, cada um busca a sua tábua de salvação e ... salve-se quem puder.

3.  A atual mudança de época

O caráter desconcertante da atual mudança de época decorre da radicalidade com que os critérios se transformaram e estão se transformando. Uma destas transformações consiste na passagem do que podemos chamar de perene ou eterno para o momentâneo ou passageiro. As diversas situações que vivemos tendem a não serem mais vistas como duradouras, eternas. Ao contrário, como bem conhecemos da poesia, elas são “eternas enquanto duram” [3]. Também aqui, neste aspecto, os exemplos são muitos. O mais conhecido é o do matrimônio. Caracterizado pela condição de perenidade, ou seja, por perdurar até que a morte ocasione a separação, o matrimônio se depara hoje com a característica de nem mesmo existir. Basta recordar o fenômeno de casais que, permanecendo, cada um em sua casa, encontram-se esporadicamente para o que melhor lhes convier. No campo das religiões, as conhecidas pesquisas ligadas ao censo anterior e realizadas no período próximo ao ano 2000, revelaram altos graus de mobilidade religiosa. As pessoas mudam de religião com facilidade maior que em outros tempos. Poderíamos permanecer aqui com vários exemplos. Estes, todavia, são suficientes para evocar uma realidade que conhecemos bem.
São, portanto, transformações em 180º. Períodos históricos anteriores se caracterizaram, dito a grosso modo, pelo predomínio do grupal sobre o individual, do institucional e do tradicional sobre as escolhas pessoais, do unificado sobre o diversificado. Nossos dias trouxeram para centro da cena, o individual e o plural, com a possibilidade de inúmeras escolhas, sem necessariamente estarem vinculadas a uma ou outra instituição, sem seguir esta o aquela tradição. Estamos vivendo um tempo de forte individualização da vida e consequentemente das crenças. Existem tantas possibilidades de ser, de existir, que cada indivíduo é chamado a fazer suas escolhas e a compor seu quadro de existência, sem o forte compromisso, próprio de outras épocas, de seguir a mesma tendência de seus antepassados, sem aderir às tradições e instituições transmissoras e garantidoras deste passado.
Nosso idioma permite compreender este fato com alguma facilidade, de modo especial quando, repletos de alegria, fazemos uso de algum serviço de atendimento por telefone e ouvimos, do outro lado da linha, algo do tipo “vou estar indo fazer o registro de sua reclamação; o senhor pode estar anotando o protocolo de sua reclamação?” Expressões do tipo “vou estar indo” ou “pode estar anotando”, além de ferirem ouvidos em termos de idioma pátrio, demonstram exatamente o que significa esta mentalidade do estar agora, sem se preocupar com que foi antes e, mais ainda, com o que será amanhã [4].
Este momento de passagem não implica exclusão do extremo oposto, mas inversão de prioridades ou primazia nos critérios. Perenidade, unidade, institucionalidade são condições humanas do existir e por isso sempre estarão presentes. A diferença é que não estão presentes nos primeiros lugares da lista. Valem como certos parentes que sabemos existirem, mas só os encontramos em casamentos ou funerais. Ninguém vai atrás deles. Eles é que aparecem em determinados contextos.

4.  O que fazer com esta mudança de época?

Várias são as atitudes diante de uma mudança de época. A primeira e mais comum é a que se agarra ao passado, confundindo, no caso da Fé, o que, de fato, é um dado de Fé com aquilo que é marca cultural e histórica. Em geral, são chamados de fundamentalistas [5]. O outro extremo, sem um nome específico que o identifique, se caracteriza pela ruptura, em alguns casos praticamente total, entre os dados centrais da Fé e as marcas histórico-culturais. Enquanto os primeiros, isto é, os fundamentalistas, não permitem que se faça a passagem para o novo momento histórico, os outros fazem uma passagem tão extrema que acabam por perder até mesmo a identidade.
Isto acontece porque as mudanças de época, exatamente por tocarem nos alicerces, atingem muito diretamente as identidades. O que é, em nossos dias, ser cristão, ser político, ser marido ou esposa, educador, pai ou mãe, ministro religioso e assim por diante? Cada um tem seu jeito de vivenciar estas situações exemplificadas. E não se trata de uma decorrência da diversidade própria do ser humano. As pessoas são diferentes, mas sua diversidade, nos períodos de consolidação, tendem a acontecer num determinado espaço razoavelmente circunscrito. Nas mudanças de época, a variação nos jeitos de ser é quase infinita.
É bem provável que fique a impressão de que as mudanças de época são de todo negativas. Se, por um lado, não podemos negar o caráter desconcertante destes períodos, pois eles nos tiram o chão da existência, por outro, as mudanças de época são momentos muito propícios para o crescimento pessoal e comunitário. Isto acontece porque, ao retirar o chão das garantias histórico-culturais, as mudanças de época nos empurram para aquilo que é essencial em nossas vidas. Pedem uma revisão em nossa identidade. O que é ser um bom profissional, amigo, cônjuge, ministro religioso e, no nível mais profundo, uma pessoa de fé?
Para responder, sabemos que é necessário distinguir duas realidades que, na prática, acontecem integradas. De um lado, temos a Fé. De outro, temos as concretizações histórico-culturais desta mesma Fé. Uma coisa é crer em Jesus Cristo, morto e ressuscitado para a nossa salvação; outra, vivenciar esta Fé em, por exemplo, procissões, assembléias ou tardes de louvor. Estes três exemplos, que podem nem ser os melhores, são concretizações históricas de algo que está além do momento histórico em que vivemos, ou seja, nossa adesão viva e integral a Jesus Cristo e nosso compromisso com o Reino de Deus.
Sabemos que, na prática, a Fé e suas concretizações históricas e culturais caminham juntas. A Fé só é acolhida, vivenciada e transmitida a partir das culturas. Toda vivência da Fé obedece sempre a parâmetros culturais. Nos períodos de consolidação, Fé e cultura(s) tendem a se aproximar bastante, a ponto de, muitas vezes se correr o risco de se considerar como dado de Fé algo que é cultural. As mudanças de época trazem, como uma de suas conseqüências, a separação entre o que é dado da Fé e as marcas da(s) cultura(s). No caso da atual mudança de época, deparamo-nos com categorias que sempre estiveram presentes na existência de nossos antepassados e mesmo na nossa existência. A diferença consiste no fato de que eram vistas não como o padrão a ser seguido, mas como exceções. Ao contrário, em nossos dias, deparamo-nos com todo o peso da provisoriedade, do momentâneo, da diversidade. Por certo, todas as características da atual mudança de época nunca desapareceram do cenário da vida. Elas são realidades humanas que estavam deixadas de lado, na periferia de uma mentalidade que valorizava mais o eterno, o imutável, o essencial. Agora, características opostas foram trazidas para os primeiros lugares na lista de importâncias. Esta nova centralidade é tão importante e aguda que, mesmo sem sentir ou concordar, acabamos sendo levados por ela. O mundo de nossos dias, pelo menos em sua parte ocidental, está marcado por forte mobilidade não apenas física, mas, como lembrado antes, existencial.
Esta transformação, ao trazer para o centro da vida humana aspectos que estavam, por séculos, na periferia das compreensões, faz emergir uma questão bastante séria: a questão pela possibilidade de se viver o cristianismo num contexto como este. É possível viver a fé num contexto de mobilidade, de transitoriedade?Daí a pergunta: pode-se viver a experiência cristã em termos de mobilidade? Formulando de outro modo: que vínculos existe entre a experiência bíblica de Deus e a mobilidade, a provisoriedade, a transitoriedade e todas as demais características deste tempo atual?
Quando colocada deste modo, a pergunta pela possibilidade da experiência cristã em contexto de mobilidade pede de nós a mesma atitude daquele “pai de família que tira de seu tesouro coisas novas e velhas” (cf. Mt 13,52). As mudanças de época fazem com que tiremos de nosso tesouro coisas novas que, na verdade, são velhas, ou, então, coisas velhas que, diante de novos contextos, tornam-se novas. A mobilidade é uma delas. O problema é que não estamos acostumados a lidar com ela.


5.  O cristianismo é também mobilidade

Quando nos voltamos, de modo orante, para a Escritura Sagrada, encontramos um fio condutor de mobilidade. A experiência bíblica veterotestamentária emerge do êxodo, saída de um lugar de escravidão para ingresso na terra prometida, antecedido por um período longo de peregrinação deserto adentro. Qual é a primeira ordem divina transmitida a Abrão? “Sai da tua terra e caminha, peregrina até onde eu te mostrarei!”
Se pularmos para o Novo Testamento, deparamo-nos com o Filho do Homem não tendo onde reclinar a cabeça (Mt 8,20), andando de cidade em cidade (Lc 4,43) enviando os discípulos na mesma situação, sem muitos apoios ou condições de estagnação (Lc 10,4). Descobrimos Jesus de Nazaré quebrando os paradigmas exatamente de uma mentalidade que, por ser excessivamente estática, tornava-se incapaz de acolher o Messias que estava por vir, que já passava entre eles, peregrinando no meio de toda aquela gente, de modo especial entre os sofredores. Como não pensar em textos como o do filho de Timeu, cego e estaticamente sentado à margem da vida (Mc 10,46-52). Jesus, o Messias, está passando. O cego grita. A mentalidade estática lhe diz “cala”. Jesus, porém, interrompe o caminhar, acolhe o cego indigente e o põe a caminho. Jesus pára de caminhar para por alguém no caminho do Reino. É também interessante observar os milagres. Jesus, ao manifestar o Reino de Deus, através de prodígios, emite dois tipos de palavras, ambos ligados à mobilidade: ou diz “Vai (tua fé te salvou) ou convida: Vem (e segue-me). Nos dois casos, movimento.
Estes são apenas exemplos. Se nos deixarem, ficaremos longo tempo a recordar textos bíblicos e nossa lista aumentará em muito. Basta nos lembrarmos que “não temos aqui cidade permanente, mas estamos à procura da que está por vir” (Hb 13,14). Somos sempre a Igreja que, à semelhança das moças que aguardam seu senhor voltar (Mt 25,1-13), a Ele diz incessantemente “Vem”. O fato é que sempre encontraremos mobilidade na experiência bíblica de Deus.

6.  Mobilidade, sim. Perda de identidade, não.

Por certo, quando falamos em mobilidade, não estamos nos referindo ao que não se enraíza. Em geral, costumamos deixar uma planta quieta, exatamente para que crie suas raízes e se torne consequentemente firme. O paradoxo do Reino de Deus é que a mobilidade, quando vivida no compromisso com este Reino, no discipulado-missionário de Jesus Cristo, cria raízes, não aqui ou acolá, mas exatamente onde o Reino acontece: cria raízes no interior de cada pessoa e no conjunto de valores que compõem uma cultura. Despega-nos de tudo mais, desinstala, para que, livres, caminhemos (cf. 1 Cr 9,24-27) rumo Àquele que, embora de condição divina, não permaneceu estático, mas viveu de modo extremo a mobilidade, que se esvaziou, fazendo-se um de nós, exceto no pecado (cf Fp 2,6-11). Ao amar os seus até o extremo (cf. Jo 13,1), abandonou as seguranças da posição de Mestre (cf. Jo 13,4-15; Mc. 10,35-45), deixando-se crucificar por amor de nós.
A mobilidade pode ser desumanizante quando, no nível da geografia, pessoas e grupos são obrigados a se deslocar de suas terras em busca de sobrevivência. A mobilidade pode ainda ser desumanizante quando, em decorrência de fatores puramente estéticos, leva pessoas a não se contentarem com o que são, mas ingressarem numa desenfreada busca de aparência e contínua adaptação aos padrões do momento. A mobilidade pode, em terceiro lugar, ser desumanizante quando retira das pessoas as categorias de compromisso, de entrega de si, de adesão radical, como acontece no exemplo mais conhecido, o dos matrimônios.

7.  Por onde, então, deve passar a ação evangelizadora?

Esta é a razão pela qual as atuais Diretrizes Gerais da Ação Evangelizadora colocam, entre as urgências, exatamente a animação bíblica da vida e da pastoral[6]. As mudanças de época são sempre tempos propícios para se redescobrir que o contato pessoal e comunitário com a Palavra de Deus é “lugar privilegiado de encontro com Jesus Cristo” (DGAE 45). Não se trata, insistem as Diretrizes, de uma espécie de modismo, atitude momentânea, fruto exatamente deste período histórico, em que tudo é passageiro, com posturas e opções que, logo em seguida, são descartadas. (Idem, 46). O contato orante, pessoal e comunitário, com as Escrituras deve ser uma das características deste tempo. Por meio deste contato, o discípulo-missionário de hoje haverá de deixar a Palavra falar por si e, nela, encontrar o significado autêntico de uma experiência salvífica que, na mobilidade e na transitoriedade desta vida, é convite constante à perenidade do Reino de Deus.


[1] AMADO, Joel Portella, Mas que loucura! O desafio de seguir Jesus Cristo no século XXI, em: RUBIO, A. G . e AMADO, J. P. (Orgs.), Espiritualidade Cristã em tempos de mudança. Contribuições teológico-pastorais, Petrópolis, Vozes, 2010, p. 17-32;  IDEM, Catequese num mundo em transformação. Desafios do contexto sociocultural, religioso e eclesial para a iniciação cristã, em: CNBB – Comissão Episcopal para a Animação Bíblico-Catequética, Brasília, Edições CNBB, 2010, p. 45-56
[2] No dizer da Exortação Apostólica Evangellii Nuntiandi, atingem os “critérios de julgar, os valores que contam, os centros de interesse, as linhas de pensamento, as fontes inspiradoras e os modelos de vida da humanidade (EN 19).
[3] cf  MORAES, V., Soneto de Fidelidade, em: MORAES, V., Antologia Poética, Rio de Janeiro, Edições do Autor, 1960, p. 96.
[4] Dizem até que um dos hinos do atual momento poderia ser: “nada do que foi será do jeito que já foi um dia” (Lulu Santos).
[5] Sobre o fundamentalismo, existem diversas obras publicas e mesmo artigos que ajudarão a compreender o fenômeno. O termo é complexo. Aplicado inicialmente à leitura bíblica, alargou-se para significar uma forma de compreensão da totalidade da vida. Em termos bíblicos, a expressão remete a dois autores norte-americanos: Amzi C. Dixon e Reuben A. Torrey. Seus textos foram publicados no período entre 1909 e 1915. com tradução recente para o português: Os Fundamentos: a famosa coletânea das verdades bíblicas fundamentais. São Paulo, Hagnos, 2005. Também: DE BONI, L. A., Fundamentalismo, Porto Alegre, Edipucrs, 1995. Nesta obra, o alarga-se o conceito de fundamentalismo como concepção de vida.
[6] JOÃO PAULO II, Exortação Apostólica Tertio Millenio Adveniente, 40