sexta-feira, 28 de setembro de 2012


A IGREJA NUM MUNDO EM MUDANÇA

Pe. Joel Portella Amado, Rio de Janeiro.

“Muitas vezes e de diversos modos”, já se falou a respeito do atual contexto que a Igreja vem enfrentando nas últimas décadas [1]. Este Congresso inicia seu conjunto de conferências voltando a este tema, no desejo de compreendê-lo em articulação com a animação bíblica da vida e da pastoral. Mesmo, portanto, já tendo sido abordado anteriormente, convém retornar, mais uma vez, à compreensão do atual momento eclesial.
Isto acontece porque falar sobre algo não implica necessariamente encontrar a solução dos problemas. Palestras, congressos, simpósios e todas as demais formas de estudo ajudam a compreender o fenômeno e com ele interagir. Diante de fenômenos complexos, convém o retorno a seu estudo inúmeras vezes, de modo que a compreensão se vá alargando, com o ingresso de novos elementos, como é o caso, neste Congresso, da animação bíblica. A solução, entretanto, se encontra lá fora, no dia-a-dia, onde a ação evangelizadora efetivamente acontece.

1.  Observações preliminares
Convém iniciar com duas observações por meio das quais se contextualiza o que está acontecendo. A primeira constatação nos leva a ultrapassar os limites da Igreja. O fenômeno que estamos experimentando não é específico da Igreja Católica. No âmbito religioso, ele atinge também as Igrejas da Reforma, notadamente as históricas, chegando até às demais religiões. Trata-se, portanto, de um fenômeno de amplo alcance. A diferença está no modo como ele atinge cada uma destas religiões e o modo como elas reagem.
A segunda observação alarga ainda mais o fenômeno, pois chama nossa atenção para o fato de que não se trata de algo específico desta ou daquela região do planeta. A realidade sobre a qual estamos falando diz respeito ao mundo todo, ainda que sob diversos graus de afetação. É por isso que um dos termos mais usados para descrevê-lo é exatamente globalização. O Documento de Aparecida, nos números 37-44, trata da globalização mostrando que, além de ser uma realidade geográfica, no sentido de que atinge praticamente todos os povos, é também existencial, pois abrange as diversas instâncias da vida de pessoas e povos.

2.      Do que estamos falando

Além do termo globalização, outras expressões têm sido utilizadas para manifestar o que está acontecendo com o mundo em nosso tempo. A expressão mais conhecida é pós-modernidade. A ela se somam outras (hipermodernidade, modernidade em crise, modernidade tardia etc..). O nome não importa tanto. Interessa mais compreender os mecanismos que estão atuando no atual momento e perceber o porquê da urgência que recai sobre a animação bíblica.
Para descrever esta realidade, gosto de utilizar um pequeno trecho das Diretrizes anteriores (2008-2010). Refiro-me ao final do nº 13, onde, através de um jogo de palavras, se descrevia, a meu ver com bastante clareza, o que está acontecendo em nossos dias. O texto afirma que, mais do que uma época de mudanças nossos dias experimentam uma verdadeira mudança de época. São situações que, embora parecidas, distinguem-se no nível de afetação e nas conseqüências que geram. Em comum, as duas têm a realidade das transformações num nível bastante elevado. Diferem, entretanto, no grau em que estas transformações atingem a vida de pessoas e povos. As épocas de mudança têm efeitos menos abrangentes que as mudanças de época. As épocas de mudança colocam diante de nós um conjunto de fatos novos, com os quais vamos interagir baseados em critérios solidamente estabelecidos. Nas épocas de mudança venha o que vier, estaremos preparados, pois sabemos o que somos, o que temos, no que cremos e com o que sonhamos.
As mudanças de época ultrapassam os limites dos fatos novos e chegam até os critérios, fazendo com que não exista tanta clareza do que sejamos, tenhamos, creiamos ou sonhemos. As épocas de mudança atingem o ver a realidade. As mudanças de época atingem o julgar [2]. Quando apenas o ver é atingido, mais facilmente se chega ao agir. Quando, porém, o julgar é afetado mais difícil se torna discernir a ação. É porque estamos numa mudança de época que, em diversas instâncias da vida, inclusive na ação evangelizadora, nos sentimos como que apalpando a realidade para chegar a soluções. Estamos, na verdade, tentando. Todos tentam. Cada um tenta a seu jeito. Em geral, as soluções possuem um caráter mais imediato e, às vezes, de curta duração. Crescem as tentativas individuais e a valorização do que é próprio de cada um, até mesmo com o prejuízo da pastoral de conjunto. Isso acontece porque as mudanças de época nos jogam para fora do navio, colocando-nos em meio a um mar agitado. Nesta hora, cada um busca a sua tábua de salvação e ... salve-se quem puder.

3.  A atual mudança de época

O caráter desconcertante da atual mudança de época decorre da radicalidade com que os critérios se transformaram e estão se transformando. Uma destas transformações consiste na passagem do que podemos chamar de perene ou eterno para o momentâneo ou passageiro. As diversas situações que vivemos tendem a não serem mais vistas como duradouras, eternas. Ao contrário, como bem conhecemos da poesia, elas são “eternas enquanto duram” [3]. Também aqui, neste aspecto, os exemplos são muitos. O mais conhecido é o do matrimônio. Caracterizado pela condição de perenidade, ou seja, por perdurar até que a morte ocasione a separação, o matrimônio se depara hoje com a característica de nem mesmo existir. Basta recordar o fenômeno de casais que, permanecendo, cada um em sua casa, encontram-se esporadicamente para o que melhor lhes convier. No campo das religiões, as conhecidas pesquisas ligadas ao censo anterior e realizadas no período próximo ao ano 2000, revelaram altos graus de mobilidade religiosa. As pessoas mudam de religião com facilidade maior que em outros tempos. Poderíamos permanecer aqui com vários exemplos. Estes, todavia, são suficientes para evocar uma realidade que conhecemos bem.
São, portanto, transformações em 180º. Períodos históricos anteriores se caracterizaram, dito a grosso modo, pelo predomínio do grupal sobre o individual, do institucional e do tradicional sobre as escolhas pessoais, do unificado sobre o diversificado. Nossos dias trouxeram para centro da cena, o individual e o plural, com a possibilidade de inúmeras escolhas, sem necessariamente estarem vinculadas a uma ou outra instituição, sem seguir esta o aquela tradição. Estamos vivendo um tempo de forte individualização da vida e consequentemente das crenças. Existem tantas possibilidades de ser, de existir, que cada indivíduo é chamado a fazer suas escolhas e a compor seu quadro de existência, sem o forte compromisso, próprio de outras épocas, de seguir a mesma tendência de seus antepassados, sem aderir às tradições e instituições transmissoras e garantidoras deste passado.
Nosso idioma permite compreender este fato com alguma facilidade, de modo especial quando, repletos de alegria, fazemos uso de algum serviço de atendimento por telefone e ouvimos, do outro lado da linha, algo do tipo “vou estar indo fazer o registro de sua reclamação; o senhor pode estar anotando o protocolo de sua reclamação?” Expressões do tipo “vou estar indo” ou “pode estar anotando”, além de ferirem ouvidos em termos de idioma pátrio, demonstram exatamente o que significa esta mentalidade do estar agora, sem se preocupar com que foi antes e, mais ainda, com o que será amanhã [4].
Este momento de passagem não implica exclusão do extremo oposto, mas inversão de prioridades ou primazia nos critérios. Perenidade, unidade, institucionalidade são condições humanas do existir e por isso sempre estarão presentes. A diferença é que não estão presentes nos primeiros lugares da lista. Valem como certos parentes que sabemos existirem, mas só os encontramos em casamentos ou funerais. Ninguém vai atrás deles. Eles é que aparecem em determinados contextos.

4.  O que fazer com esta mudança de época?

Várias são as atitudes diante de uma mudança de época. A primeira e mais comum é a que se agarra ao passado, confundindo, no caso da Fé, o que, de fato, é um dado de Fé com aquilo que é marca cultural e histórica. Em geral, são chamados de fundamentalistas [5]. O outro extremo, sem um nome específico que o identifique, se caracteriza pela ruptura, em alguns casos praticamente total, entre os dados centrais da Fé e as marcas histórico-culturais. Enquanto os primeiros, isto é, os fundamentalistas, não permitem que se faça a passagem para o novo momento histórico, os outros fazem uma passagem tão extrema que acabam por perder até mesmo a identidade.
Isto acontece porque as mudanças de época, exatamente por tocarem nos alicerces, atingem muito diretamente as identidades. O que é, em nossos dias, ser cristão, ser político, ser marido ou esposa, educador, pai ou mãe, ministro religioso e assim por diante? Cada um tem seu jeito de vivenciar estas situações exemplificadas. E não se trata de uma decorrência da diversidade própria do ser humano. As pessoas são diferentes, mas sua diversidade, nos períodos de consolidação, tendem a acontecer num determinado espaço razoavelmente circunscrito. Nas mudanças de época, a variação nos jeitos de ser é quase infinita.
É bem provável que fique a impressão de que as mudanças de época são de todo negativas. Se, por um lado, não podemos negar o caráter desconcertante destes períodos, pois eles nos tiram o chão da existência, por outro, as mudanças de época são momentos muito propícios para o crescimento pessoal e comunitário. Isto acontece porque, ao retirar o chão das garantias histórico-culturais, as mudanças de época nos empurram para aquilo que é essencial em nossas vidas. Pedem uma revisão em nossa identidade. O que é ser um bom profissional, amigo, cônjuge, ministro religioso e, no nível mais profundo, uma pessoa de fé?
Para responder, sabemos que é necessário distinguir duas realidades que, na prática, acontecem integradas. De um lado, temos a Fé. De outro, temos as concretizações histórico-culturais desta mesma Fé. Uma coisa é crer em Jesus Cristo, morto e ressuscitado para a nossa salvação; outra, vivenciar esta Fé em, por exemplo, procissões, assembléias ou tardes de louvor. Estes três exemplos, que podem nem ser os melhores, são concretizações históricas de algo que está além do momento histórico em que vivemos, ou seja, nossa adesão viva e integral a Jesus Cristo e nosso compromisso com o Reino de Deus.
Sabemos que, na prática, a Fé e suas concretizações históricas e culturais caminham juntas. A Fé só é acolhida, vivenciada e transmitida a partir das culturas. Toda vivência da Fé obedece sempre a parâmetros culturais. Nos períodos de consolidação, Fé e cultura(s) tendem a se aproximar bastante, a ponto de, muitas vezes se correr o risco de se considerar como dado de Fé algo que é cultural. As mudanças de época trazem, como uma de suas conseqüências, a separação entre o que é dado da Fé e as marcas da(s) cultura(s). No caso da atual mudança de época, deparamo-nos com categorias que sempre estiveram presentes na existência de nossos antepassados e mesmo na nossa existência. A diferença consiste no fato de que eram vistas não como o padrão a ser seguido, mas como exceções. Ao contrário, em nossos dias, deparamo-nos com todo o peso da provisoriedade, do momentâneo, da diversidade. Por certo, todas as características da atual mudança de época nunca desapareceram do cenário da vida. Elas são realidades humanas que estavam deixadas de lado, na periferia de uma mentalidade que valorizava mais o eterno, o imutável, o essencial. Agora, características opostas foram trazidas para os primeiros lugares na lista de importâncias. Esta nova centralidade é tão importante e aguda que, mesmo sem sentir ou concordar, acabamos sendo levados por ela. O mundo de nossos dias, pelo menos em sua parte ocidental, está marcado por forte mobilidade não apenas física, mas, como lembrado antes, existencial.
Esta transformação, ao trazer para o centro da vida humana aspectos que estavam, por séculos, na periferia das compreensões, faz emergir uma questão bastante séria: a questão pela possibilidade de se viver o cristianismo num contexto como este. É possível viver a fé num contexto de mobilidade, de transitoriedade?Daí a pergunta: pode-se viver a experiência cristã em termos de mobilidade? Formulando de outro modo: que vínculos existe entre a experiência bíblica de Deus e a mobilidade, a provisoriedade, a transitoriedade e todas as demais características deste tempo atual?
Quando colocada deste modo, a pergunta pela possibilidade da experiência cristã em contexto de mobilidade pede de nós a mesma atitude daquele “pai de família que tira de seu tesouro coisas novas e velhas” (cf. Mt 13,52). As mudanças de época fazem com que tiremos de nosso tesouro coisas novas que, na verdade, são velhas, ou, então, coisas velhas que, diante de novos contextos, tornam-se novas. A mobilidade é uma delas. O problema é que não estamos acostumados a lidar com ela.


5.  O cristianismo é também mobilidade

Quando nos voltamos, de modo orante, para a Escritura Sagrada, encontramos um fio condutor de mobilidade. A experiência bíblica veterotestamentária emerge do êxodo, saída de um lugar de escravidão para ingresso na terra prometida, antecedido por um período longo de peregrinação deserto adentro. Qual é a primeira ordem divina transmitida a Abrão? “Sai da tua terra e caminha, peregrina até onde eu te mostrarei!”
Se pularmos para o Novo Testamento, deparamo-nos com o Filho do Homem não tendo onde reclinar a cabeça (Mt 8,20), andando de cidade em cidade (Lc 4,43) enviando os discípulos na mesma situação, sem muitos apoios ou condições de estagnação (Lc 10,4). Descobrimos Jesus de Nazaré quebrando os paradigmas exatamente de uma mentalidade que, por ser excessivamente estática, tornava-se incapaz de acolher o Messias que estava por vir, que já passava entre eles, peregrinando no meio de toda aquela gente, de modo especial entre os sofredores. Como não pensar em textos como o do filho de Timeu, cego e estaticamente sentado à margem da vida (Mc 10,46-52). Jesus, o Messias, está passando. O cego grita. A mentalidade estática lhe diz “cala”. Jesus, porém, interrompe o caminhar, acolhe o cego indigente e o põe a caminho. Jesus pára de caminhar para por alguém no caminho do Reino. É também interessante observar os milagres. Jesus, ao manifestar o Reino de Deus, através de prodígios, emite dois tipos de palavras, ambos ligados à mobilidade: ou diz “Vai (tua fé te salvou) ou convida: Vem (e segue-me). Nos dois casos, movimento.
Estes são apenas exemplos. Se nos deixarem, ficaremos longo tempo a recordar textos bíblicos e nossa lista aumentará em muito. Basta nos lembrarmos que “não temos aqui cidade permanente, mas estamos à procura da que está por vir” (Hb 13,14). Somos sempre a Igreja que, à semelhança das moças que aguardam seu senhor voltar (Mt 25,1-13), a Ele diz incessantemente “Vem”. O fato é que sempre encontraremos mobilidade na experiência bíblica de Deus.

6.  Mobilidade, sim. Perda de identidade, não.

Por certo, quando falamos em mobilidade, não estamos nos referindo ao que não se enraíza. Em geral, costumamos deixar uma planta quieta, exatamente para que crie suas raízes e se torne consequentemente firme. O paradoxo do Reino de Deus é que a mobilidade, quando vivida no compromisso com este Reino, no discipulado-missionário de Jesus Cristo, cria raízes, não aqui ou acolá, mas exatamente onde o Reino acontece: cria raízes no interior de cada pessoa e no conjunto de valores que compõem uma cultura. Despega-nos de tudo mais, desinstala, para que, livres, caminhemos (cf. 1 Cr 9,24-27) rumo Àquele que, embora de condição divina, não permaneceu estático, mas viveu de modo extremo a mobilidade, que se esvaziou, fazendo-se um de nós, exceto no pecado (cf Fp 2,6-11). Ao amar os seus até o extremo (cf. Jo 13,1), abandonou as seguranças da posição de Mestre (cf. Jo 13,4-15; Mc. 10,35-45), deixando-se crucificar por amor de nós.
A mobilidade pode ser desumanizante quando, no nível da geografia, pessoas e grupos são obrigados a se deslocar de suas terras em busca de sobrevivência. A mobilidade pode ainda ser desumanizante quando, em decorrência de fatores puramente estéticos, leva pessoas a não se contentarem com o que são, mas ingressarem numa desenfreada busca de aparência e contínua adaptação aos padrões do momento. A mobilidade pode, em terceiro lugar, ser desumanizante quando retira das pessoas as categorias de compromisso, de entrega de si, de adesão radical, como acontece no exemplo mais conhecido, o dos matrimônios.

7.  Por onde, então, deve passar a ação evangelizadora?

Esta é a razão pela qual as atuais Diretrizes Gerais da Ação Evangelizadora colocam, entre as urgências, exatamente a animação bíblica da vida e da pastoral[6]. As mudanças de época são sempre tempos propícios para se redescobrir que o contato pessoal e comunitário com a Palavra de Deus é “lugar privilegiado de encontro com Jesus Cristo” (DGAE 45). Não se trata, insistem as Diretrizes, de uma espécie de modismo, atitude momentânea, fruto exatamente deste período histórico, em que tudo é passageiro, com posturas e opções que, logo em seguida, são descartadas. (Idem, 46). O contato orante, pessoal e comunitário, com as Escrituras deve ser uma das características deste tempo. Por meio deste contato, o discípulo-missionário de hoje haverá de deixar a Palavra falar por si e, nela, encontrar o significado autêntico de uma experiência salvífica que, na mobilidade e na transitoriedade desta vida, é convite constante à perenidade do Reino de Deus.


[1] AMADO, Joel Portella, Mas que loucura! O desafio de seguir Jesus Cristo no século XXI, em: RUBIO, A. G . e AMADO, J. P. (Orgs.), Espiritualidade Cristã em tempos de mudança. Contribuições teológico-pastorais, Petrópolis, Vozes, 2010, p. 17-32;  IDEM, Catequese num mundo em transformação. Desafios do contexto sociocultural, religioso e eclesial para a iniciação cristã, em: CNBB – Comissão Episcopal para a Animação Bíblico-Catequética, Brasília, Edições CNBB, 2010, p. 45-56
[2] No dizer da Exortação Apostólica Evangellii Nuntiandi, atingem os “critérios de julgar, os valores que contam, os centros de interesse, as linhas de pensamento, as fontes inspiradoras e os modelos de vida da humanidade (EN 19).
[3] cf  MORAES, V., Soneto de Fidelidade, em: MORAES, V., Antologia Poética, Rio de Janeiro, Edições do Autor, 1960, p. 96.
[4] Dizem até que um dos hinos do atual momento poderia ser: “nada do que foi será do jeito que já foi um dia” (Lulu Santos).
[5] Sobre o fundamentalismo, existem diversas obras publicas e mesmo artigos que ajudarão a compreender o fenômeno. O termo é complexo. Aplicado inicialmente à leitura bíblica, alargou-se para significar uma forma de compreensão da totalidade da vida. Em termos bíblicos, a expressão remete a dois autores norte-americanos: Amzi C. Dixon e Reuben A. Torrey. Seus textos foram publicados no período entre 1909 e 1915. com tradução recente para o português: Os Fundamentos: a famosa coletânea das verdades bíblicas fundamentais. São Paulo, Hagnos, 2005. Também: DE BONI, L. A., Fundamentalismo, Porto Alegre, Edipucrs, 1995. Nesta obra, o alarga-se o conceito de fundamentalismo como concepção de vida.
[6] JOÃO PAULO II, Exortação Apostólica Tertio Millenio Adveniente, 40


A IGREJA NUM MUNDO EM MUDANÇA

Pe. Joel Portella Amado, Rio de Janeiro.

“Muitas vezes e de diversos modos”, já se falou a respeito do atual contexto que a Igreja vem enfrentando nas últimas décadas [1]. Este Congresso inicia seu conjunto de conferências voltando a este tema, no desejo de compreendê-lo em articulação com a animação bíblica da vida e da pastoral. Mesmo, portanto, já tendo sido abordado anteriormente, convém retornar, mais uma vez, à compreensão do atual momento eclesial.
Isto acontece porque falar sobre algo não implica necessariamente encontrar a solução dos problemas. Palestras, congressos, simpósios e todas as demais formas de estudo ajudam a compreender o fenômeno e com ele interagir. Diante de fenômenos complexos, convém o retorno a seu estudo inúmeras vezes, de modo que a compreensão se vá alargando, com o ingresso de novos elementos, como é o caso, neste Congresso, da animação bíblica. A solução, entretanto, se encontra lá fora, no dia-a-dia, onde a ação evangelizadora efetivamente acontece.

1.  Observações preliminares
Convém iniciar com duas observações por meio das quais se contextualiza o que está acontecendo. A primeira constatação nos leva a ultrapassar os limites da Igreja. O fenômeno que estamos experimentando não é específico da Igreja Católica. No âmbito religioso, ele atinge também as Igrejas da Reforma, notadamente as históricas, chegando até às demais religiões. Trata-se, portanto, de um fenômeno de amplo alcance. A diferença está no modo como ele atinge cada uma destas religiões e o modo como elas reagem.
A segunda observação alarga ainda mais o fenômeno, pois chama nossa atenção para o fato de que não se trata de algo específico desta ou daquela região do planeta. A realidade sobre a qual estamos falando diz respeito ao mundo todo, ainda que sob diversos graus de afetação. É por isso que um dos termos mais usados para descrevê-lo é exatamente globalização. O Documento de Aparecida, nos números 37-44, trata da globalização mostrando que, além de ser uma realidade geográfica, no sentido de que atinge praticamente todos os povos, é também existencial, pois abrange as diversas instâncias da vida de pessoas e povos.

2.      Do que estamos falando

Além do termo globalização, outras expressões têm sido utilizadas para manifestar o que está acontecendo com o mundo em nosso tempo. A expressão mais conhecida é pós-modernidade. A ela se somam outras (hipermodernidade, modernidade em crise, modernidade tardia etc..). O nome não importa tanto. Interessa mais compreender os mecanismos que estão atuando no atual momento e perceber o porquê da urgência que recai sobre a animação bíblica.
Para descrever esta realidade, gosto de utilizar um pequeno trecho das Diretrizes anteriores (2008-2010). Refiro-me ao final do nº 13, onde, através de um jogo de palavras, se descrevia, a meu ver com bastante clareza, o que está acontecendo em nossos dias. O texto afirma que, mais do que uma época de mudanças nossos dias experimentam uma verdadeira mudança de época. São situações que, embora parecidas, distinguem-se no nível de afetação e nas conseqüências que geram. Em comum, as duas têm a realidade das transformações num nível bastante elevado. Diferem, entretanto, no grau em que estas transformações atingem a vida de pessoas e povos. As épocas de mudança têm efeitos menos abrangentes que as mudanças de época. As épocas de mudança colocam diante de nós um conjunto de fatos novos, com os quais vamos interagir baseados em critérios solidamente estabelecidos. Nas épocas de mudança venha o que vier, estaremos preparados, pois sabemos o que somos, o que temos, no que cremos e com o que sonhamos.
As mudanças de época ultrapassam os limites dos fatos novos e chegam até os critérios, fazendo com que não exista tanta clareza do que sejamos, tenhamos, creiamos ou sonhemos. As épocas de mudança atingem o ver a realidade. As mudanças de época atingem o julgar [2]. Quando apenas o ver é atingido, mais facilmente se chega ao agir. Quando, porém, o julgar é afetado mais difícil se torna discernir a ação. É porque estamos numa mudança de época que, em diversas instâncias da vida, inclusive na ação evangelizadora, nos sentimos como que apalpando a realidade para chegar a soluções. Estamos, na verdade, tentando. Todos tentam. Cada um tenta a seu jeito. Em geral, as soluções possuem um caráter mais imediato e, às vezes, de curta duração. Crescem as tentativas individuais e a valorização do que é próprio de cada um, até mesmo com o prejuízo da pastoral de conjunto. Isso acontece porque as mudanças de época nos jogam para fora do navio, colocando-nos em meio a um mar agitado. Nesta hora, cada um busca a sua tábua de salvação e ... salve-se quem puder.

3.  A atual mudança de época

O caráter desconcertante da atual mudança de época decorre da radicalidade com que os critérios se transformaram e estão se transformando. Uma destas transformações consiste na passagem do que podemos chamar de perene ou eterno para o momentâneo ou passageiro. As diversas situações que vivemos tendem a não serem mais vistas como duradouras, eternas. Ao contrário, como bem conhecemos da poesia, elas são “eternas enquanto duram” [3]. Também aqui, neste aspecto, os exemplos são muitos. O mais conhecido é o do matrimônio. Caracterizado pela condição de perenidade, ou seja, por perdurar até que a morte ocasione a separação, o matrimônio se depara hoje com a característica de nem mesmo existir. Basta recordar o fenômeno de casais que, permanecendo, cada um em sua casa, encontram-se esporadicamente para o que melhor lhes convier. No campo das religiões, as conhecidas pesquisas ligadas ao censo anterior e realizadas no período próximo ao ano 2000, revelaram altos graus de mobilidade religiosa. As pessoas mudam de religião com facilidade maior que em outros tempos. Poderíamos permanecer aqui com vários exemplos. Estes, todavia, são suficientes para evocar uma realidade que conhecemos bem.
São, portanto, transformações em 180º. Períodos históricos anteriores se caracterizaram, dito a grosso modo, pelo predomínio do grupal sobre o individual, do institucional e do tradicional sobre as escolhas pessoais, do unificado sobre o diversificado. Nossos dias trouxeram para centro da cena, o individual e o plural, com a possibilidade de inúmeras escolhas, sem necessariamente estarem vinculadas a uma ou outra instituição, sem seguir esta o aquela tradição. Estamos vivendo um tempo de forte individualização da vida e consequentemente das crenças. Existem tantas possibilidades de ser, de existir, que cada indivíduo é chamado a fazer suas escolhas e a compor seu quadro de existência, sem o forte compromisso, próprio de outras épocas, de seguir a mesma tendência de seus antepassados, sem aderir às tradições e instituições transmissoras e garantidoras deste passado.
Nosso idioma permite compreender este fato com alguma facilidade, de modo especial quando, repletos de alegria, fazemos uso de algum serviço de atendimento por telefone e ouvimos, do outro lado da linha, algo do tipo “vou estar indo fazer o registro de sua reclamação; o senhor pode estar anotando o protocolo de sua reclamação?” Expressões do tipo “vou estar indo” ou “pode estar anotando”, além de ferirem ouvidos em termos de idioma pátrio, demonstram exatamente o que significa esta mentalidade do estar agora, sem se preocupar com que foi antes e, mais ainda, com o que será amanhã [4].
Este momento de passagem não implica exclusão do extremo oposto, mas inversão de prioridades ou primazia nos critérios. Perenidade, unidade, institucionalidade são condições humanas do existir e por isso sempre estarão presentes. A diferença é que não estão presentes nos primeiros lugares da lista. Valem como certos parentes que sabemos existirem, mas só os encontramos em casamentos ou funerais. Ninguém vai atrás deles. Eles é que aparecem em determinados contextos.

4.  O que fazer com esta mudança de época?

Várias são as atitudes diante de uma mudança de época. A primeira e mais comum é a que se agarra ao passado, confundindo, no caso da Fé, o que, de fato, é um dado de Fé com aquilo que é marca cultural e histórica. Em geral, são chamados de fundamentalistas [5]. O outro extremo, sem um nome específico que o identifique, se caracteriza pela ruptura, em alguns casos praticamente total, entre os dados centrais da Fé e as marcas histórico-culturais. Enquanto os primeiros, isto é, os fundamentalistas, não permitem que se faça a passagem para o novo momento histórico, os outros fazem uma passagem tão extrema que acabam por perder até mesmo a identidade.
Isto acontece porque as mudanças de época, exatamente por tocarem nos alicerces, atingem muito diretamente as identidades. O que é, em nossos dias, ser cristão, ser político, ser marido ou esposa, educador, pai ou mãe, ministro religioso e assim por diante? Cada um tem seu jeito de vivenciar estas situações exemplificadas. E não se trata de uma decorrência da diversidade própria do ser humano. As pessoas são diferentes, mas sua diversidade, nos períodos de consolidação, tendem a acontecer num determinado espaço razoavelmente circunscrito. Nas mudanças de época, a variação nos jeitos de ser é quase infinita.
É bem provável que fique a impressão de que as mudanças de época são de todo negativas. Se, por um lado, não podemos negar o caráter desconcertante destes períodos, pois eles nos tiram o chão da existência, por outro, as mudanças de época são momentos muito propícios para o crescimento pessoal e comunitário. Isto acontece porque, ao retirar o chão das garantias histórico-culturais, as mudanças de época nos empurram para aquilo que é essencial em nossas vidas. Pedem uma revisão em nossa identidade. O que é ser um bom profissional, amigo, cônjuge, ministro religioso e, no nível mais profundo, uma pessoa de fé?
Para responder, sabemos que é necessário distinguir duas realidades que, na prática, acontecem integradas. De um lado, temos a Fé. De outro, temos as concretizações histórico-culturais desta mesma Fé. Uma coisa é crer em Jesus Cristo, morto e ressuscitado para a nossa salvação; outra, vivenciar esta Fé em, por exemplo, procissões, assembléias ou tardes de louvor. Estes três exemplos, que podem nem ser os melhores, são concretizações históricas de algo que está além do momento histórico em que vivemos, ou seja, nossa adesão viva e integral a Jesus Cristo e nosso compromisso com o Reino de Deus.
Sabemos que, na prática, a Fé e suas concretizações históricas e culturais caminham juntas. A Fé só é acolhida, vivenciada e transmitida a partir das culturas. Toda vivência da Fé obedece sempre a parâmetros culturais. Nos períodos de consolidação, Fé e cultura(s) tendem a se aproximar bastante, a ponto de, muitas vezes se correr o risco de se considerar como dado de Fé algo que é cultural. As mudanças de época trazem, como uma de suas conseqüências, a separação entre o que é dado da Fé e as marcas da(s) cultura(s). No caso da atual mudança de época, deparamo-nos com categorias que sempre estiveram presentes na existência de nossos antepassados e mesmo na nossa existência. A diferença consiste no fato de que eram vistas não como o padrão a ser seguido, mas como exceções. Ao contrário, em nossos dias, deparamo-nos com todo o peso da provisoriedade, do momentâneo, da diversidade. Por certo, todas as características da atual mudança de época nunca desapareceram do cenário da vida. Elas são realidades humanas que estavam deixadas de lado, na periferia de uma mentalidade que valorizava mais o eterno, o imutável, o essencial. Agora, características opostas foram trazidas para os primeiros lugares na lista de importâncias. Esta nova centralidade é tão importante e aguda que, mesmo sem sentir ou concordar, acabamos sendo levados por ela. O mundo de nossos dias, pelo menos em sua parte ocidental, está marcado por forte mobilidade não apenas física, mas, como lembrado antes, existencial.
Esta transformação, ao trazer para o centro da vida humana aspectos que estavam, por séculos, na periferia das compreensões, faz emergir uma questão bastante séria: a questão pela possibilidade de se viver o cristianismo num contexto como este. É possível viver a fé num contexto de mobilidade, de transitoriedade?Daí a pergunta: pode-se viver a experiência cristã em termos de mobilidade? Formulando de outro modo: que vínculos existe entre a experiência bíblica de Deus e a mobilidade, a provisoriedade, a transitoriedade e todas as demais características deste tempo atual?
Quando colocada deste modo, a pergunta pela possibilidade da experiência cristã em contexto de mobilidade pede de nós a mesma atitude daquele “pai de família que tira de seu tesouro coisas novas e velhas” (cf. Mt 13,52). As mudanças de época fazem com que tiremos de nosso tesouro coisas novas que, na verdade, são velhas, ou, então, coisas velhas que, diante de novos contextos, tornam-se novas. A mobilidade é uma delas. O problema é que não estamos acostumados a lidar com ela.


5.  O cristianismo é também mobilidade

Quando nos voltamos, de modo orante, para a Escritura Sagrada, encontramos um fio condutor de mobilidade. A experiência bíblica veterotestamentária emerge do êxodo, saída de um lugar de escravidão para ingresso na terra prometida, antecedido por um período longo de peregrinação deserto adentro. Qual é a primeira ordem divina transmitida a Abrão? “Sai da tua terra e caminha, peregrina até onde eu te mostrarei!”
Se pularmos para o Novo Testamento, deparamo-nos com o Filho do Homem não tendo onde reclinar a cabeça (Mt 8,20), andando de cidade em cidade (Lc 4,43) enviando os discípulos na mesma situação, sem muitos apoios ou condições de estagnação (Lc 10,4). Descobrimos Jesus de Nazaré quebrando os paradigmas exatamente de uma mentalidade que, por ser excessivamente estática, tornava-se incapaz de acolher o Messias que estava por vir, que já passava entre eles, peregrinando no meio de toda aquela gente, de modo especial entre os sofredores. Como não pensar em textos como o do filho de Timeu, cego e estaticamente sentado à margem da vida (Mc 10,46-52). Jesus, o Messias, está passando. O cego grita. A mentalidade estática lhe diz “cala”. Jesus, porém, interrompe o caminhar, acolhe o cego indigente e o põe a caminho. Jesus pára de caminhar para por alguém no caminho do Reino. É também interessante observar os milagres. Jesus, ao manifestar o Reino de Deus, através de prodígios, emite dois tipos de palavras, ambos ligados à mobilidade: ou diz “Vai (tua fé te salvou) ou convida: Vem (e segue-me). Nos dois casos, movimento.
Estes são apenas exemplos. Se nos deixarem, ficaremos longo tempo a recordar textos bíblicos e nossa lista aumentará em muito. Basta nos lembrarmos que “não temos aqui cidade permanente, mas estamos à procura da que está por vir” (Hb 13,14). Somos sempre a Igreja que, à semelhança das moças que aguardam seu senhor voltar (Mt 25,1-13), a Ele diz incessantemente “Vem”. O fato é que sempre encontraremos mobilidade na experiência bíblica de Deus.

6.  Mobilidade, sim. Perda de identidade, não.

Por certo, quando falamos em mobilidade, não estamos nos referindo ao que não se enraíza. Em geral, costumamos deixar uma planta quieta, exatamente para que crie suas raízes e se torne consequentemente firme. O paradoxo do Reino de Deus é que a mobilidade, quando vivida no compromisso com este Reino, no discipulado-missionário de Jesus Cristo, cria raízes, não aqui ou acolá, mas exatamente onde o Reino acontece: cria raízes no interior de cada pessoa e no conjunto de valores que compõem uma cultura. Despega-nos de tudo mais, desinstala, para que, livres, caminhemos (cf. 1 Cr 9,24-27) rumo Àquele que, embora de condição divina, não permaneceu estático, mas viveu de modo extremo a mobilidade, que se esvaziou, fazendo-se um de nós, exceto no pecado (cf Fp 2,6-11). Ao amar os seus até o extremo (cf. Jo 13,1), abandonou as seguranças da posição de Mestre (cf. Jo 13,4-15; Mc. 10,35-45), deixando-se crucificar por amor de nós.
A mobilidade pode ser desumanizante quando, no nível da geografia, pessoas e grupos são obrigados a se deslocar de suas terras em busca de sobrevivência. A mobilidade pode ainda ser desumanizante quando, em decorrência de fatores puramente estéticos, leva pessoas a não se contentarem com o que são, mas ingressarem numa desenfreada busca de aparência e contínua adaptação aos padrões do momento. A mobilidade pode, em terceiro lugar, ser desumanizante quando retira das pessoas as categorias de compromisso, de entrega de si, de adesão radical, como acontece no exemplo mais conhecido, o dos matrimônios.

7.  Por onde, então, deve passar a ação evangelizadora?

Esta é a razão pela qual as atuais Diretrizes Gerais da Ação Evangelizadora colocam, entre as urgências, exatamente a animação bíblica da vida e da pastoral[6]. As mudanças de época são sempre tempos propícios para se redescobrir que o contato pessoal e comunitário com a Palavra de Deus é “lugar privilegiado de encontro com Jesus Cristo” (DGAE 45). Não se trata, insistem as Diretrizes, de uma espécie de modismo, atitude momentânea, fruto exatamente deste período histórico, em que tudo é passageiro, com posturas e opções que, logo em seguida, são descartadas. (Idem, 46). O contato orante, pessoal e comunitário, com as Escrituras deve ser uma das características deste tempo. Por meio deste contato, o discípulo-missionário de hoje haverá de deixar a Palavra falar por si e, nela, encontrar o significado autêntico de uma experiência salvífica que, na mobilidade e na transitoriedade desta vida, é convite constante à perenidade do Reino de Deus.


[1] AMADO, Joel Portella, Mas que loucura! O desafio de seguir Jesus Cristo no século XXI, em: RUBIO, A. G . e AMADO, J. P. (Orgs.), Espiritualidade Cristã em tempos de mudança. Contribuições teológico-pastorais, Petrópolis, Vozes, 2010, p. 17-32;  IDEM, Catequese num mundo em transformação. Desafios do contexto sociocultural, religioso e eclesial para a iniciação cristã, em: CNBB – Comissão Episcopal para a Animação Bíblico-Catequética, Brasília, Edições CNBB, 2010, p. 45-56
[2] No dizer da Exortação Apostólica Evangellii Nuntiandi, atingem os “critérios de julgar, os valores que contam, os centros de interesse, as linhas de pensamento, as fontes inspiradoras e os modelos de vida da humanidade (EN 19).
[3] cf  MORAES, V., Soneto de Fidelidade, em: MORAES, V., Antologia Poética, Rio de Janeiro, Edições do Autor, 1960, p. 96.
[4] Dizem até que um dos hinos do atual momento poderia ser: “nada do que foi será do jeito que já foi um dia” (Lulu Santos).
[5] Sobre o fundamentalismo, existem diversas obras publicas e mesmo artigos que ajudarão a compreender o fenômeno. O termo é complexo. Aplicado inicialmente à leitura bíblica, alargou-se para significar uma forma de compreensão da totalidade da vida. Em termos bíblicos, a expressão remete a dois autores norte-americanos: Amzi C. Dixon e Reuben A. Torrey. Seus textos foram publicados no período entre 1909 e 1915. com tradução recente para o português: Os Fundamentos: a famosa coletânea das verdades bíblicas fundamentais. São Paulo, Hagnos, 2005. Também: DE BONI, L. A., Fundamentalismo, Porto Alegre, Edipucrs, 1995. Nesta obra, o alarga-se o conceito de fundamentalismo como concepção de vida.
[6] JOÃO PAULO II, Exortação Apostólica Tertio Millenio Adveniente, 40

A Igreja num mundo em mudanças


A IGREJA NUM MUNDO EM MUDANÇA

Pe. Joel Portella Amado, Rio de Janeiro.

“Muitas vezes e de diversos modos”, já se falou a respeito do atual contexto que a Igreja vem enfrentando nas últimas décadas [1]. Este Congresso inicia seu conjunto de conferências voltando a este tema, no desejo de compreendê-lo em articulação com a animação bíblica da vida e da pastoral. Mesmo, portanto, já tendo sido abordado anteriormente, convém retornar, mais uma vez, à compreensão do atual momento eclesial.
Isto acontece porque falar sobre algo não implica necessariamente encontrar a solução dos problemas. Palestras, congressos, simpósios e todas as demais formas de estudo ajudam a compreender o fenômeno e com ele interagir. Diante de fenômenos complexos, convém o retorno a seu estudo inúmeras vezes, de modo que a compreensão se vá alargando, com o ingresso de novos elementos, como é o caso, neste Congresso, da animação bíblica. A solução, entretanto, se encontra lá fora, no dia-a-dia, onde a ação evangelizadora efetivamente acontece.

1.  Observações preliminares
Convém iniciar com duas observações por meio das quais se contextualiza o que está acontecendo. A primeira constatação nos leva a ultrapassar os limites da Igreja. O fenômeno que estamos experimentando não é específico da Igreja Católica. No âmbito religioso, ele atinge também as Igrejas da Reforma, notadamente as históricas, chegando até às demais religiões. Trata-se, portanto, de um fenômeno de amplo alcance. A diferença está no modo como ele atinge cada uma destas religiões e o modo como elas reagem.
A segunda observação alarga ainda mais o fenômeno, pois chama nossa atenção para o fato de que não se trata de algo específico desta ou daquela região do planeta. A realidade sobre a qual estamos falando diz respeito ao mundo todo, ainda que sob diversos graus de afetação. É por isso que um dos termos mais usados para descrevê-lo é exatamente globalização. O Documento de Aparecida, nos números 37-44, trata da globalização mostrando que, além de ser uma realidade geográfica, no sentido de que atinge praticamente todos os povos, é também existencial, pois abrange as diversas instâncias da vida de pessoas e povos.

2.      Do que estamos falando

Além do termo globalização, outras expressões têm sido utilizadas para manifestar o que está acontecendo com o mundo em nosso tempo. A expressão mais conhecida é pós-modernidade. A ela se somam outras (hipermodernidade, modernidade em crise, modernidade tardia etc..). O nome não importa tanto. Interessa mais compreender os mecanismos que estão atuando no atual momento e perceber o porquê da urgência que recai sobre a animação bíblica.
Para descrever esta realidade, gosto de utilizar um pequeno trecho das Diretrizes anteriores (2008-2010). Refiro-me ao final do nº 13, onde, através de um jogo de palavras, se descrevia, a meu ver com bastante clareza, o que está acontecendo em nossos dias. O texto afirma que, mais do que uma época de mudanças nossos dias experimentam uma verdadeira mudança de época. São situações que, embora parecidas, distinguem-se no nível de afetação e nas conseqüências que geram. Em comum, as duas têm a realidade das transformações num nível bastante elevado. Diferem, entretanto, no grau em que estas transformações atingem a vida de pessoas e povos. As épocas de mudança têm efeitos menos abrangentes que as mudanças de época. As épocas de mudança colocam diante de nós um conjunto de fatos novos, com os quais vamos interagir baseados em critérios solidamente estabelecidos. Nas épocas de mudança venha o que vier, estaremos preparados, pois sabemos o que somos, o que temos, no que cremos e com o que sonhamos.
As mudanças de época ultrapassam os limites dos fatos novos e chegam até os critérios, fazendo com que não exista tanta clareza do que sejamos, tenhamos, creiamos ou sonhemos. As épocas de mudança atingem o ver a realidade. As mudanças de época atingem o julgar [2]. Quando apenas o ver é atingido, mais facilmente se chega ao agir. Quando, porém, o julgar é afetado mais difícil se torna discernir a ação. É porque estamos numa mudança de época que, em diversas instâncias da vida, inclusive na ação evangelizadora, nos sentimos como que apalpando a realidade para chegar a soluções. Estamos, na verdade, tentando. Todos tentam. Cada um tenta a seu jeito. Em geral, as soluções possuem um caráter mais imediato e, às vezes, de curta duração. Crescem as tentativas individuais e a valorização do que é próprio de cada um, até mesmo com o prejuízo da pastoral de conjunto. Isso acontece porque as mudanças de época nos jogam para fora do navio, colocando-nos em meio a um mar agitado. Nesta hora, cada um busca a sua tábua de salvação e ... salve-se quem puder.

3.  A atual mudança de época

O caráter desconcertante da atual mudança de época decorre da radicalidade com que os critérios se transformaram e estão se transformando. Uma destas transformações consiste na passagem do que podemos chamar de perene ou eterno para o momentâneo ou passageiro. As diversas situações que vivemos tendem a não serem mais vistas como duradouras, eternas. Ao contrário, como bem conhecemos da poesia, elas são “eternas enquanto duram” [3]. Também aqui, neste aspecto, os exemplos são muitos. O mais conhecido é o do matrimônio. Caracterizado pela condição de perenidade, ou seja, por perdurar até que a morte ocasione a separação, o matrimônio se depara hoje com a característica de nem mesmo existir. Basta recordar o fenômeno de casais que, permanecendo, cada um em sua casa, encontram-se esporadicamente para o que melhor lhes convier. No campo das religiões, as conhecidas pesquisas ligadas ao censo anterior e realizadas no período próximo ao ano 2000, revelaram altos graus de mobilidade religiosa. As pessoas mudam de religião com facilidade maior que em outros tempos. Poderíamos permanecer aqui com vários exemplos. Estes, todavia, são suficientes para evocar uma realidade que conhecemos bem.
São, portanto, transformações em 180º. Períodos históricos anteriores se caracterizaram, dito a grosso modo, pelo predomínio do grupal sobre o individual, do institucional e do tradicional sobre as escolhas pessoais, do unificado sobre o diversificado. Nossos dias trouxeram para centro da cena, o individual e o plural, com a possibilidade de inúmeras escolhas, sem necessariamente estarem vinculadas a uma ou outra instituição, sem seguir esta o aquela tradição. Estamos vivendo um tempo de forte individualização da vida e consequentemente das crenças. Existem tantas possibilidades de ser, de existir, que cada indivíduo é chamado a fazer suas escolhas e a compor seu quadro de existência, sem o forte compromisso, próprio de outras épocas, de seguir a mesma tendência de seus antepassados, sem aderir às tradições e instituições transmissoras e garantidoras deste passado.
Nosso idioma permite compreender este fato com alguma facilidade, de modo especial quando, repletos de alegria, fazemos uso de algum serviço de atendimento por telefone e ouvimos, do outro lado da linha, algo do tipo “vou estar indo fazer o registro de sua reclamação; o senhor pode estar anotando o protocolo de sua reclamação?” Expressões do tipo “vou estar indo” ou “pode estar anotando”, além de ferirem ouvidos em termos de idioma pátrio, demonstram exatamente o que significa esta mentalidade do estar agora, sem se preocupar com que foi antes e, mais ainda, com o que será amanhã [4].
Este momento de passagem não implica exclusão do extremo oposto, mas inversão de prioridades ou primazia nos critérios. Perenidade, unidade, institucionalidade são condições humanas do existir e por isso sempre estarão presentes. A diferença é que não estão presentes nos primeiros lugares da lista. Valem como certos parentes que sabemos existirem, mas só os encontramos em casamentos ou funerais. Ninguém vai atrás deles. Eles é que aparecem em determinados contextos.

4.  O que fazer com esta mudança de época?

Várias são as atitudes diante de uma mudança de época. A primeira e mais comum é a que se agarra ao passado, confundindo, no caso da Fé, o que, de fato, é um dado de Fé com aquilo que é marca cultural e histórica. Em geral, são chamados de fundamentalistas [5]. O outro extremo, sem um nome específico que o identifique, se caracteriza pela ruptura, em alguns casos praticamente total, entre os dados centrais da Fé e as marcas histórico-culturais. Enquanto os primeiros, isto é, os fundamentalistas, não permitem que se faça a passagem para o novo momento histórico, os outros fazem uma passagem tão extrema que acabam por perder até mesmo a identidade.
Isto acontece porque as mudanças de época, exatamente por tocarem nos alicerces, atingem muito diretamente as identidades. O que é, em nossos dias, ser cristão, ser político, ser marido ou esposa, educador, pai ou mãe, ministro religioso e assim por diante? Cada um tem seu jeito de vivenciar estas situações exemplificadas. E não se trata de uma decorrência da diversidade própria do ser humano. As pessoas são diferentes, mas sua diversidade, nos períodos de consolidação, tendem a acontecer num determinado espaço razoavelmente circunscrito. Nas mudanças de época, a variação nos jeitos de ser é quase infinita.
É bem provável que fique a impressão de que as mudanças de época são de todo negativas. Se, por um lado, não podemos negar o caráter desconcertante destes períodos, pois eles nos tiram o chão da existência, por outro, as mudanças de época são momentos muito propícios para o crescimento pessoal e comunitário. Isto acontece porque, ao retirar o chão das garantias histórico-culturais, as mudanças de época nos empurram para aquilo que é essencial em nossas vidas. Pedem uma revisão em nossa identidade. O que é ser um bom profissional, amigo, cônjuge, ministro religioso e, no nível mais profundo, uma pessoa de fé?
Para responder, sabemos que é necessário distinguir duas realidades que, na prática, acontecem integradas. De um lado, temos a Fé. De outro, temos as concretizações histórico-culturais desta mesma Fé. Uma coisa é crer em Jesus Cristo, morto e ressuscitado para a nossa salvação; outra, vivenciar esta Fé em, por exemplo, procissões, assembléias ou tardes de louvor. Estes três exemplos, que podem nem ser os melhores, são concretizações históricas de algo que está além do momento histórico em que vivemos, ou seja, nossa adesão viva e integral a Jesus Cristo e nosso compromisso com o Reino de Deus.
Sabemos que, na prática, a Fé e suas concretizações históricas e culturais caminham juntas. A Fé só é acolhida, vivenciada e transmitida a partir das culturas. Toda vivência da Fé obedece sempre a parâmetros culturais. Nos períodos de consolidação, Fé e cultura(s) tendem a se aproximar bastante, a ponto de, muitas vezes se correr o risco de se considerar como dado de Fé algo que é cultural. As mudanças de época trazem, como uma de suas conseqüências, a separação entre o que é dado da Fé e as marcas da(s) cultura(s). No caso da atual mudança de época, deparamo-nos com categorias que sempre estiveram presentes na existência de nossos antepassados e mesmo na nossa existência. A diferença consiste no fato de que eram vistas não como o padrão a ser seguido, mas como exceções. Ao contrário, em nossos dias, deparamo-nos com todo o peso da provisoriedade, do momentâneo, da diversidade. Por certo, todas as características da atual mudança de época nunca desapareceram do cenário da vida. Elas são realidades humanas que estavam deixadas de lado, na periferia de uma mentalidade que valorizava mais o eterno, o imutável, o essencial. Agora, características opostas foram trazidas para os primeiros lugares na lista de importâncias. Esta nova centralidade é tão importante e aguda que, mesmo sem sentir ou concordar, acabamos sendo levados por ela. O mundo de nossos dias, pelo menos em sua parte ocidental, está marcado por forte mobilidade não apenas física, mas, como lembrado antes, existencial.
Esta transformação, ao trazer para o centro da vida humana aspectos que estavam, por séculos, na periferia das compreensões, faz emergir uma questão bastante séria: a questão pela possibilidade de se viver o cristianismo num contexto como este. É possível viver a fé num contexto de mobilidade, de transitoriedade?Daí a pergunta: pode-se viver a experiência cristã em termos de mobilidade? Formulando de outro modo: que vínculos existe entre a experiência bíblica de Deus e a mobilidade, a provisoriedade, a transitoriedade e todas as demais características deste tempo atual?
Quando colocada deste modo, a pergunta pela possibilidade da experiência cristã em contexto de mobilidade pede de nós a mesma atitude daquele “pai de família que tira de seu tesouro coisas novas e velhas” (cf. Mt 13,52). As mudanças de época fazem com que tiremos de nosso tesouro coisas novas que, na verdade, são velhas, ou, então, coisas velhas que, diante de novos contextos, tornam-se novas. A mobilidade é uma delas. O problema é que não estamos acostumados a lidar com ela.


5.  O cristianismo é também mobilidade

Quando nos voltamos, de modo orante, para a Escritura Sagrada, encontramos um fio condutor de mobilidade. A experiência bíblica veterotestamentária emerge do êxodo, saída de um lugar de escravidão para ingresso na terra prometida, antecedido por um período longo de peregrinação deserto adentro. Qual é a primeira ordem divina transmitida a Abrão? “Sai da tua terra e caminha, peregrina até onde eu te mostrarei!”
Se pularmos para o Novo Testamento, deparamo-nos com o Filho do Homem não tendo onde reclinar a cabeça (Mt 8,20), andando de cidade em cidade (Lc 4,43) enviando os discípulos na mesma situação, sem muitos apoios ou condições de estagnação (Lc 10,4). Descobrimos Jesus de Nazaré quebrando os paradigmas exatamente de uma mentalidade que, por ser excessivamente estática, tornava-se incapaz de acolher o Messias que estava por vir, que já passava entre eles, peregrinando no meio de toda aquela gente, de modo especial entre os sofredores. Como não pensar em textos como o do filho de Timeu, cego e estaticamente sentado à margem da vida (Mc 10,46-52). Jesus, o Messias, está passando. O cego grita. A mentalidade estática lhe diz “cala”. Jesus, porém, interrompe o caminhar, acolhe o cego indigente e o põe a caminho. Jesus pára de caminhar para por alguém no caminho do Reino. É também interessante observar os milagres. Jesus, ao manifestar o Reino de Deus, através de prodígios, emite dois tipos de palavras, ambos ligados à mobilidade: ou diz “Vai (tua fé te salvou) ou convida: Vem (e segue-me). Nos dois casos, movimento.
Estes são apenas exemplos. Se nos deixarem, ficaremos longo tempo a recordar textos bíblicos e nossa lista aumentará em muito. Basta nos lembrarmos que “não temos aqui cidade permanente, mas estamos à procura da que está por vir” (Hb 13,14). Somos sempre a Igreja que, à semelhança das moças que aguardam seu senhor voltar (Mt 25,1-13), a Ele diz incessantemente “Vem”. O fato é que sempre encontraremos mobilidade na experiência bíblica de Deus.

6.  Mobilidade, sim. Perda de identidade, não.

Por certo, quando falamos em mobilidade, não estamos nos referindo ao que não se enraíza. Em geral, costumamos deixar uma planta quieta, exatamente para que crie suas raízes e se torne consequentemente firme. O paradoxo do Reino de Deus é que a mobilidade, quando vivida no compromisso com este Reino, no discipulado-missionário de Jesus Cristo, cria raízes, não aqui ou acolá, mas exatamente onde o Reino acontece: cria raízes no interior de cada pessoa e no conjunto de valores que compõem uma cultura. Despega-nos de tudo mais, desinstala, para que, livres, caminhemos (cf. 1 Cr 9,24-27) rumo Àquele que, embora de condição divina, não permaneceu estático, mas viveu de modo extremo a mobilidade, que se esvaziou, fazendo-se um de nós, exceto no pecado (cf Fp 2,6-11). Ao amar os seus até o extremo (cf. Jo 13,1), abandonou as seguranças da posição de Mestre (cf. Jo 13,4-15; Mc. 10,35-45), deixando-se crucificar por amor de nós.
A mobilidade pode ser desumanizante quando, no nível da geografia, pessoas e grupos são obrigados a se deslocar de suas terras em busca de sobrevivência. A mobilidade pode ainda ser desumanizante quando, em decorrência de fatores puramente estéticos, leva pessoas a não se contentarem com o que são, mas ingressarem numa desenfreada busca de aparência e contínua adaptação aos padrões do momento. A mobilidade pode, em terceiro lugar, ser desumanizante quando retira das pessoas as categorias de compromisso, de entrega de si, de adesão radical, como acontece no exemplo mais conhecido, o dos matrimônios.

7.  Por onde, então, deve passar a ação evangelizadora?

Esta é a razão pela qual as atuais Diretrizes Gerais da Ação Evangelizadora colocam, entre as urgências, exatamente a animação bíblica da vida e da pastoral[6]. As mudanças de época são sempre tempos propícios para se redescobrir que o contato pessoal e comunitário com a Palavra de Deus é “lugar privilegiado de encontro com Jesus Cristo” (DGAE 45). Não se trata, insistem as Diretrizes, de uma espécie de modismo, atitude momentânea, fruto exatamente deste período histórico, em que tudo é passageiro, com posturas e opções que, logo em seguida, são descartadas. (Idem, 46). O contato orante, pessoal e comunitário, com as Escrituras deve ser uma das características deste tempo. Por meio deste contato, o discípulo-missionário de hoje haverá de deixar a Palavra falar por si e, nela, encontrar o significado autêntico de uma experiência salvífica que, na mobilidade e na transitoriedade desta vida, é convite constante à perenidade do Reino de Deus.


[1] AMADO, Joel Portella, Mas que loucura! O desafio de seguir Jesus Cristo no século XXI, em: RUBIO, A. G . e AMADO, J. P. (Orgs.), Espiritualidade Cristã em tempos de mudança. Contribuições teológico-pastorais, Petrópolis, Vozes, 2010, p. 17-32;  IDEM, Catequese num mundo em transformação. Desafios do contexto sociocultural, religioso e eclesial para a iniciação cristã, em: CNBB – Comissão Episcopal para a Animação Bíblico-Catequética, Brasília, Edições CNBB, 2010, p. 45-56
[2] No dizer da Exortação Apostólica Evangellii Nuntiandi, atingem os “critérios de julgar, os valores que contam, os centros de interesse, as linhas de pensamento, as fontes inspiradoras e os modelos de vida da humanidade (EN 19).
[3] cf  MORAES, V., Soneto de Fidelidade, em: MORAES, V., Antologia Poética, Rio de Janeiro, Edições do Autor, 1960, p. 96.
[4] Dizem até que um dos hinos do atual momento poderia ser: “nada do que foi será do jeito que já foi um dia” (Lulu Santos).
[5] Sobre o fundamentalismo, existem diversas obras publicas e mesmo artigos que ajudarão a compreender o fenômeno. O termo é complexo. Aplicado inicialmente à leitura bíblica, alargou-se para significar uma forma de compreensão da totalidade da vida. Em termos bíblicos, a expressão remete a dois autores norte-americanos: Amzi C. Dixon e Reuben A. Torrey. Seus textos foram publicados no período entre 1909 e 1915. com tradução recente para o português: Os Fundamentos: a famosa coletânea das verdades bíblicas fundamentais. São Paulo, Hagnos, 2005. Também: DE BONI, L. A., Fundamentalismo, Porto Alegre, Edipucrs, 1995. Nesta obra, o alarga-se o conceito de fundamentalismo como concepção de vida.
[6] JOÃO PAULO II, Exortação Apostólica Tertio Millenio Adveniente, 40