quinta-feira, 9 de janeiro de 2014

A borboleta branca

A primavera tinha chegado finalmente. A natureza reencontrara as suas belas cores. As flores abriam as pétalas para melhor se colorirem. Os animais cantavam e brincavam. Estavam todos felizes. todos, à exceção de uma borboleta branca. Só ela se lamentava.estava desesperada. As suas grandes asas eram completamente brancas. Gostaria de ser uma borboleta multicolor. A natureza tinha-lhe pregado uma peça.
 Então, chorando de tristeza, procurou incansavelmente um meio de se colorir, esfregando-se com o pólen das flores ou relando-se na erva molhada. Uma bela manhã, banho-se na lama. Uma rã, que abitava perto, não acreditou no que os seus olhos viam. "Ter prazer em se sujar deste modo, é de veras repugnante!" Mas, ao secar, a lama quebrou-se e transformou-se em pó que voou ao sabor do vento. As asas da nossa borboleta, de novo, imaculadas de brancura. Que decepção! A borboleta branca pensava que, se comesse cenouras, podia ficar laranjada. Por isso, foi visitar seu amigo coelho. Infelizmente, não conseguiu trincar tão grande legume. Teve de renunciar ao seu projeto. Um dia esfregou-se num enorme morango. O sumo fez-lhe muitas manchas vermelhas nas asas. A borboleta branca ficou muito contente. Mas uma joaninha que descansava numa folha disse-lhe intrigada:
- Que te aconteceu? feriste-te? A joaninha tinha confundido o sumo vermelho do morango com sangue! Muito humilhada, a borboleta branca lavou as asas numas gotas de orvalho. Chegara o verão. As borboletas resplandeciam ao sol como papagaios multicolores. Para elas, era uma festa. Mas não para nossa borboleta branca. A sua vergonha era tão grande que, amuada, pousava numa margarida para se esconder. Esta flor era sua única amiga. Também ela tinha, em vão, utilizado todos os meios para se colorir. Um dia, aconteceu que Fabrício, um rapazinho, passou no campo com a sua rede borboletas, para apanhar as mais bonitas de entre elas. A borboleta branca não se assustou, pensando que a sua brancura não cativava aquele pequeno calçador. Contudo, Fabrício parou junto dela, admirado, e perguntou-lhe: Porque és toda branca? Que te aconteceu para perderes as tuas cores?
-Pobre de mim! Nunca as tive; os anjinhos-pintores deve terem se esquecidos de mim.
-Pobre borboleta! É triste o que te aconteceu. Mas... tenho uma ideia... amanha voltarei para cuidar de ti. Mal chegou a casa, Fabrício procurou a sua caixa de aquarelas:
- Amanhã, vou pintar as asas daquela pobre borboleta branca.
 Na manhã do dia seguinte, partiu às pressas, com a caixa das aquarelas debaixo do braço, para ir ter com a sua amiga que o esperava pousada numa papoulo:
- Trouxe as minhas tintas para pintar as sua asas. Ficará a mais bela das borboletas. Então Fabrício escolheu as cores mais bonitas para pintar as asas da borboleta. No final, tremendo de alegria e de emoção, ela foi mirar-se num charco de água. Virava-se, tornava-se a virar, dava voltas e mais voltas. Não estava a sonhar, as suas asas já não eram brancas! Todos os animais da vizinhança ficaram pasmados. Não acreditavam no que viam: aquela borboleta era realmente extraordinária.
A borboleta branca estava feliz, causava a admiração de todos. Numa bela tarde, uma menina, Aurélia, parou junto desta borboleta de asas diferentes: - Tenho de apanha-la para minha coleção! Correu atrás dela e não tardou a prende-la na sua rede. Mas de repente, umas grandes nuvens negras deixaram cair uma chuva que apagou as belas cores da borboleta. Aurélia, espantada e desiludida, soutou-a. Tremendo de medo, a borboleta esvoaçou e, depois, rodopiou de alegria: a sua brancura e a chuva acabaram-lhe de lhe salvar a vida. Muito alegre, a borboleta branca foi ter com a margarida, que continuava por ser branca:
- Não sabes a sorte que tens por seres branca. Se fosses colorida, há que teriam colhida, minha amiga.
-Tens razão, não tinha pensado nisso- admitiu a margarida, corando de prazer.
-E olha para a lua!... Também ela é branca e é muito feliz assim! A nossa borboleta branca e a margarida desataram a rir. O branco era tão lindo!...

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